Último jogo do Grande Torino antes da tragédia de Superga. Crédito: Bob Thomas/Popperfoto/Getty Images
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A Tragédia de Superga e o renascimento do Torino

Daniel Dutra
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No mundo do futebol existem alguns times fadados a carregarem esteriótipos. Entre os mais comuns, está o de time azarado. Assim é conhecido o Torino. Entretanto, os motivos chegam a ser extremamente tristes. Todavia, a tragédia de Superga completou 70 anos e o clube renasceu buscando ser um exemplo de gestão e superação.


Azarões do futebol, é fácil encontrar por aí. No Brasil, o mais conhecido é o Botafogo, que inclusive, tem uma frase popular para isso: “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”. Entretanto, seria até injusto comparar o azar do alvinegro carioca, com o azar do Torino, da Itália. Isso porque os motivos são bem diferentes. Enquanto o clube brasileiro é conhecido por ser azarado em campo, o Torino ficou marcado por um acidente que acabou com um sonho.

Se hoje a Juventus é conhecida como a principal equipe de Turim, nem sempre foi assim. Durante a década de 1940, o povo italiano viu no futebol, a chance de esquecer a Segunda Guerra Mundial. Foi o Torino, o grande responsável por esse entretenimento. De 1945/46 a 1948/49, o clube foi tetracampeão italiano de forma seguida, sem contar com um título anterior, fora da sequência, em 1943. Aliás, foi nesse ano, que a equipe se tornou a primeira a vencer o campeonato e a copa da Itália na mesma temporada.

O sucesso fora do país era questão de tempo. Inclusive, a Seleção Italiana aproveitou para usar o Torino, como a base para a Copa de 1950 no Brasil. Contudo, o projeto não deu certo. A base foi perdida em um acidente de avião que mudou completamente a história do Torino.

A Tragédia de Superga

A Tragédia de Superga completou 70 anos.
A Tragédia de Superga completou 70 anos.

Disputando amistosos em Portugal, a Itália goleou a seleção portuguesa. Ao final do jogo, Francisco Ferreira, o capitão do time português, solicitou um amistoso entre Benfica e Torino. Ferrucio Novo, presidente do Torino, aceitou a proposta. A equipe portuguesa acabou vencendo o jogo, mas o pior resultado viria na volta para casa.

Usando a nova aeronave Fiat G.212, apenas o quinto modelo fabricado, a equipe decolou às 09:52 do Aeroporto da Portela, em Lisboa, fazendo escala de reabastecimento em Barcelona. Depois de voltar a sobrevoar às 14:50, a tripulação recebeu um informe meteorológico indicando um denso nevoeiro. Por isso, às 16:59, o comandante Pierluigi Meroni avisou a torre de Turim que estava iniciando os procedimentos de aproximação visual para realizar a aterrizagem. Contudo, durante a manobra, a aeronave desceu brutalmente e às 17:05, colidiu em cheio contra o muro do terrapleno da Igreja Basílica de Superga, matando na hora, todos a bordo.

Faltavam quatro rodadas para o fim do Campeonato Italiano e o clube precisou colocar a equipe juvenil em campo. Entretanto, a federação italiana acabou reconhecendo o clube como campeão do último título da sequência do tetracampeonato, em 1949. Na Itália, dizem que apenas o céu conseguiu parar esse time que nenhuma equipe italiana foi capaz de segurar.

A equipe era muito jovem e ficou conhecida como caduti. Em tradução específica para o acidente, algo como “anjos caídos”, também chamados de “jovens para sempre”, uma vez que o atleta mais velho daquele time tinha 33 anos. A grande maioria tinha entre 23 e 26 anos, e o craque Valentino Mazzola acabara de completar 30 anos.

A morte do clube pós Tragédia de Superga

Depois da tragédia de Superga, o clube foi se reerguendo aos poucos e alcançou bons resultados novamente. Em 1976, voltou a vencer o título italiano e, em 1991, a Coppa Italia. Contudo, o sonho de conquistar a Europa não tinha ficado naquele avião. No ano seguinte, em 1992, a equipe disputou a Copa da UEFA e eliminou gigantes como Real Madrid e chegou na final contra o Ajax. A final em Amsterdã foi uma verdadeira loucura. O Torino acertou três bolas na trave, mas azarado que só, acabou perdendo a chance do título continental.

No mesmo ano, a Câmara abriu processos contra os donos e ex-donos do clube, que acabou sendo vendido. Em 1995, a equipe acabou sendo rebaixada para a segunda divisão. Até o início do século atual, o Torino foi vendido mais quatro vezes. Somente em 2005, a equipe conseguiu voltar para a primeira divisão. Contudo, foi barrada por falta de garantias financeiras. Com isso, em 2005, o clube abriu falência. Dessa forma, um grupo de torcedores do time começou uma nova firma e refundou o Torino.

Após tudo isso, a equipe seria vendida novamente. Entretanto, mesmo depois do acordo, um acionista recusou vender sua parte. Arrependeu-se. A torcida do Torino cercou o empresário que teve que fugir para um hotel e enfim, vender o clube. Muitos dirigentes acabaram sendo responsabilizados por más gestões.

Azarão

Refundado, o clube conseguiu se inscrever novamente no campeonato e, mais de uma década depois, voltar para a primeira divisão. Com isso, mais uma chance de voltar a crescer. Logo na volta, na temporada 2013/14, o clube precisava apenas vencer o último jogo do campeonato para se classificar para a Liga Europa. No último lance do jogo, um pênalti para o Torino. Seria o fim do azar do clube? Não. Alessio Cerci perdeu o pênalti e o Parma pegou a vaga do Torino.

Mas calma, não adiantaria muita coisa mesmo. O Torino seria excluído pela UEFA por conta de dívidas meses depois. O mínimo que o clube conseguiu fazer foi se manter na Serie A. Nem mesmo bater de frente com a rival Juventus, o clube conseguia. Fato que terminou em 2015, com vitória grená e muita confusão. Entretanto, depois disso, nunca mais também.

O renascimento do Torino

O Torino tenta se reerguer após a tragédia de Superga.
Manter o clube estruturado entre todas as categorias é a missão do Torino.

Urbano Cairo, um bilionário e ex-assistente de Silvio Berlusconi, foi quem assumiu o novo Torino. Seu início, como pudemos ver, não foi dos melhores. Depois de um novo rebaixamento com constantes trocas de técnicos e contratações como Recoba e Di Micheli, o presidente mudou sua filosofia de contratações para uma filosofia com mais pés no chão, contratando um dirigente que mudaria os rumos decadentes do time.

Gianluca Petrachi, que se destacou no Pisa, tirando a equipe da Série C e colocando na luta para a Série A, foi contratado como novo dirigente. No maior estilo “moneyball“. Contudo, seu início também não foi dos melhores. Mas a nova filosofia, que visava um bom trabalho nas categorias de base com ajuda de olheiros, começou a dar certo quando a equipe procurou um técnico para criar um padrão de jogo.

Hoje portanto, o clube se restabeleceu na Série A e voltou a disputar a Liga Europa. A cada temporada, uma melhor classificação na tabela. Na Liga Europa, continua sendo azarado, até mesmo no sorteio dos grupos. Mas o que importa realmente, é ver que a nova filosofia vem dando certo. Novas contratações de destaque surgem a cada ano, mas sempre com os pés no chão. Todos os departamentos agora funcionam integrados e a equipe volta a ser uma força no futebol italiano, com um projeto de médio prazo.

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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