Adaptação: Juanfran não joga mais pelo São Paulo. Crédito: Marcos Ribolli
Futebol, Futebol Internacional, Futebol Nacional

“Futebol jogado no Brasil é muito individual. Você tem que fazer a diferença. É menos tático.”

Com o fim do campeonato brasileiro de 2020, jogadores como Juanfran e Kalou se despediram do Brasil com passagens amargas. Esse movimento inverso pode ser explicado pela simples diferença entre tática (Europa) e individualismo (Brasil) na adaptação dos atletas.


Sempre se discutiu muito a adaptação de jogadores brasileiros na Europa. Como sabemos, muitos deles acabam não dando certo. Entretanto, na última temporada aconteceu algo inédito. Jogadores consagrados como Juanfran, Kalou e Honda deixaram o Brasil colocando em dúvida o futebol jogador por eles.

Certamente, um dos grandes empecilhos foi a idade. Contudo, seria muito despretensioso pensar que apenas a idade, em pleno 2021, é um fator direto para o baixo desempenho. Inclusive, passou da hora de entendermos que, da mesma forma que a Europa parece ser um esporte diferente do futebol disputado pelos brasileiros, no Brasil, o futebol também parece um esporte diferente para os europeus.

Como sempre, o motivo é simples: tática versus individualismo.

“Não joguei o meu melhor e tenho que assumir a responsabilidade. Mas vale lembrar que Honda tem 34 anos, eu tenho 35, então não seremos os tipos de jogadores que vamos driblar todo mundo e marcar todos os gols. Dependemos de um bom time nessa idade. Honda deixou o clube, ele estava farto e frustrado com a situação. Éramos os jogadores mais experientes, mas em um novo ambiente. Existe a barreira da língua e a forma que o futebol é jogado no Brasil é diferente: é muito individual. Você tem que fazer a diferença. Às vezes você precisa de muito físico e habilidade em várias situações de um contra um. É menos tático.” – Kalou para a BBC da Inglaterra.

Formações e hábitos

Recorde de empates. Crédito: Vitor Silva/Botafogo
Kalou e Danilo Barcelos disputam bola no alto. Crédito: Vitor Silva/Botafogo

Ou seja, como disse Kalou, o futebol brasileiro é muito mais individual, o que acaba aumentando a dificuldade de atletas formados em culturas mais avançadas, como na Europa. Por isso, mesmo Juanfran sendo bom no apoio, ele não teve um mecanismo tático no São Paulo que passasse segurança. Por isso, acabou sofrendo muito no 1 versus 1, e sem cobertura, teve participação em gols sofridos.

Contudo, isso não é um demérito dos atletas. Na verdade, são formações diferentes que mais parecem esportes diferentes. Assim como o peso de sair de uma categoria de base para o profissional, também existe um peso em trocar de países e continentes tão diferentes em suas metodologias. Inclusive, não é só os jogadores que sentem esse impacto. Em entrevista para a PressFut, o treinador Bruno Pivetti, que trabalhou na Bulgária, contou sobre a experiência:

“Me chamou a atenção a intensidade demonstrada por estas equipes e a capacidade de variação tática que apresentam durante as partidas. Mantêm os mesmos princípios de jogo, porém adotam diferentes sistemas ao longo da partida e em diferentes jogos.” – Bruno Pivetti para a PressFut.

Adaptação: entendendo as diferenças

Otávio marcando Neymar. Crédito: AFP
Otávio em um duelo recorrente com Neymar no Campeonato Francês. Crédito: AFP

Entre as diferenças, europeus e brasileiros partilham de pontos iguais. Entre eles: a barreira do idioma e do clima em um ambiente diferente. Foi assim para o Kalou no Brasil, e para o Otávio no Bordeaux, da França. O volante brasileiro foi mais um a comentar sobre as diferenças entre o futebol brasileiro e o futebol europeu para a PressFut:

“Minha adaptação no começo sem dúvida foi um pouco difícil. Por conta do clima, do idioma, de todas essas dificuldades que a gente tem de estar chegando em um outro país, com uma cultura totalmente diferente… E sem dúvida a equipe me ajuda muito, o esquema, a formação tática e o estilo de jogo da equipe favoreceu também o meu individual. Espero que a gente possa continuar fazendo com que o individual de cada atleta possa se realçar através do nosso grupo.” – Otávio para a PressFut.

Ou seja, além de compartilhar barreiras em comum, Kalou e Otávio compartilharam também, seus entendimentos sobre cada continente. Por mais que o marfinense pouco agregou ao Botafogo, ele conseguiu entender, de forma rápida, que o futebol brasileiro é muito mais individual do que o jogado na Europa. Por isso, sentiu dificuldades. Já Otávio, mesmo sendo um dos destaques do campeonato francês, entendeu que a coletividade europeia é a melhor forma de se destacar individualmente no continente.

Daniel Dutra

Jornalista e fundador da PressFut. Também atua no SBT e na Rádio Tupi.
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