Bahia, o clube do povo. Crédito: Romildo de Jesus
Futebol, Futebol Nacional

Bahia: o clube do povo mostra os motivos dessa nomeação

Daniel Dutra
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Mais do que resultados dentro de campo, o Bahia fideliza seu torcedor com atitudes fora dele. Popularização de camisas, inclusão social e luta contra o preconceito são alguns dos fatores que fazem do Bahia o clube do povo. Infelizmente, no momento atual, isso irrita muita gente.


O Bahia foi campeão baiano, campeão nordestino e o primeiro campeão brasileiro. Por mais que faça muito tempo desde o último título de maior expressão, é um clube que está ali, sempre brigando entre os grandes, como no ano passado, quando fez sua melhor campanha no brasileirão de pontos corridos.

Mas hoje, o orgulho que o Bahia transmite para seus torcedores, não vem necessariamente de um troféu ou de uma medalha. O time baiano transcendeu as quatro linhas e mostrou que é muito mais do que apenas futebol, como lembrou o presidente do clube em entrevista ao jornal espanhol “El Pais”.

“Nossa torcida tem entendido a mensagem de tolerância e respeito às diferenças. O Bahia representa muito da identidade cultural e social do nosso Estado. Por isso, temos obrigação de nos posicionar, frear extremismos e apoiar causas que vão além do campo de jogo”. – Guilherme Bellintani ao jornal espanhol.

Em meio a uma sociedade individualista e conservadora, o tricolor mostra coragem de se posicionar, de forma que nenhum outro clube faz atualmente, sem precisar de uma posição partidária. E ele realmente não precisa disso, pois é o próprio partido, que carrega em si a bandeira de um povo que representa a essência do Brasil.

O Bahia entendeu as necessidades de sua torcida

Consciência negra.
Bahia fez escalações em homenagem a grande líderes negros no mês da consciência negra.

Ao ser o time pioneiro da primeira divisão brasileira a criar uma marca própria de uniformes, o Bahia enxergou além do lucro – que multiplicou – a possibilidade de ajudar as pessoas mais humildes que não tinham acesso aos uniformes da equipe. O preço popular das camisas foram para menos de 100 reais, tornando-a mais acessível ao público. Além de fazer ações, onde os torcedores desenharam a camisa como queriam.

Vivendo seu auge, a tecnologia mudou muita coisa, inclusive a forma de se comunicar e entender as dores dos outros. Em 2018, o Bahia criou o Núcleo de Ações Afirmativas (NAA), que aborda temas que ainda são tabus: racismo, machismo, homofobia, intolerância religiosa, violência e muitos outros pontos.

“Nossa torcida é muito popular, muito diversa. Ricos, pobres, negros, brancos, gays, héteros, trans… Nossa torcida tem tudo. E a gente precisava de um processo de comunicação que fizesse a torcida se sentir integrada. O futebol é um ambiente muito masculino, muito preconceituoso, comumente é um canal de difusão de ódio. Uma série de circunstâncias que o ser humano tem e aproveita o futebol para canalizar negativamente. A gente busca com o Núcleo de Ações Afirmativas justamente o contrário. Fazer com que essas pessoas não se sintam excluídas do dia a dia do futebol. Queremos que eles se sintam acolhidos e protegidos. Seja mulher, gay, negro, indígena.” – disse o presidente Bellintani ao LANCE.

Nesse ano, uma dessas ações causou polêmica, não pela campanha, mas pela masculinidade frágil de muitas pessoas. O Bahia encabeçou a campanha #PedeA24, que teve apoio de outros times, profissionais da mídia e jogadores. A ideia era acabar com a infantilidade, também conhecida como homofobia, que reina em nosso país sobre o número 24, que se refere ao veado (animal) no jogo do bicho.

Entretanto, muita gente foi contra a campanha, inclusive insinuando que o clube foi eliminado da Copa do Brasil por estar querendo mudar demais o futebol. A insegurança sexual daqueles que apontam o dedo para pessoas homoafetivas fizeram o Bahia passar a ser odiado dentro dessa bolha homofóbica.

Esses opositores do clube, no entanto, não interferem nas campanhas afirmativas do Esquadrão de Aço, pois elas são mais focadas nas dificuldades da população mais pobre e segregada da Bahia, que mesmo sendo o berço do país, ainda sofre com a pobreza e discriminação. 

Como agente inclusivo, o Bahia não foca apenas em quem torce para ele. No momento da pandemia do novo coronavírus, o tricolor foi o primeiro time de futebol no Brasil a disponibilizar seu centro de treinamento para abrigar pessoas infectadas e que precisem de ajuda médica. São com atitudes assim, em momentos difíceis, que o Bahia se mostra o verdadeiro clube do povo. Brigando inclusive por questões do dia a dia e bem estar do torcedor, como o preço da cerveja e o tratamento dado a eles no estádio de futebol.

Entre todas as coisas do mundo, na qual faz parte o extermínio das minorias, que o Bahia nunca retroaja e continue sendo do povo, para o povo, sem abrir mão de sua essência por um mercado endinheirado. A história do clube merece respeito, algumas lutas podem ter começado agora, mas a trajetória está sendo consistente e includente.

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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