Futebol, Futebol Nacional

Conheça Castor de Andrade e o Bangu, a dupla que surpreendeu o Brasil nos anos 80.

Localizado na zona norte do Rio de Janeiro, o Bangu não possuía grandes glórias desportivas, mas sempre carregou o orgulho de seu bairro. Obtendo como seu único título nacional, uma Taça Rio-São Paulo em 1951, o Bangu se estagnou no cenário nacional e perdeu sua força e torcida. Apesar de passar alguns anos de “vacas magras”, o alvirrubro resistiu, e viu Castor de Andrade e sua família ressuscitarem o clube de volta ao cenário nacional.


ANOS 50:

(Créditos: bangu.net)

Ainda que tenha recebido o apelido de Milionários, o final dos anos 50 foram frustrantes para o torcedor banguense. Com grandes contratações como a do craque Zizinho, e mesmo com o investimento do empresário Silveirinha, os alvirrubros não conseguiam soltar o grito de campeão. Faltava algo. Sendo o último título, um Torneio Início em 1955, estava na hora de juntar as forças banguenses para dar um salto de grandeza no clube.

ANOS 60 E O INÍCIO DE SEU AUGE:

O ano de 1963 foi um marco para os alvirrubros. Somado ao mandato de Silveirinha, o clube teve um novo selecionado para exercer o mandato presidencial: Eusébio de Andrade. Conhecido como Seu Zizinho, o famoso bicheiro carioca esbanjava riqueza, trazendo junto ao dinheiro, seu filho Castor de Andrade para o Departamento de Futebol. Sendo assim, o Bangu aproveitou a influência financeira da família Andrade e Silva, iniciando seu período auge em sua história.

Já sob o comando de Eusébio, o clube iniciou sua campanha no Campeonato Carioca de 1963 com um belíssimo retrospecto: 24 jogos, 16 vitórias, 4 empates e 4 derrotas, obtendo um terceiro lugar. No ano seguinte, os banguenses se fizeram ainda mais presentes na parte de cima da tabela, conseguindo um empolgante segundo lugar. Em contrapartida do que se esperava, o clube continuou com sua ótima campanha, mas foi frustrado por outro vice-campeonato, dessa vez em duas partidas desempate contra o Fluminense.

Apesar de nos últimos anos chegar perto e não conquistar um título, o Bangu seguia muito bem sua caminhada no campeonato de 1965. Com sete vitórias, três empates e uma derrota, a equipe alvirrubra estava próxima de levantar a tão desejada taça. No entanto, as últimas três rodadas foram caóticas para os banguenses. Com apenas um triunfo, um empate e uma derrota, o Bangu viu o título ficar longe de seu bairro, viajando até à Gávea e sendo levantado pelo Flamengo.

ENFIM, A GLÓRIA:

Devastado por seu segundo vice-campeonato consecutivo, os jogadores do subúrbio fizeram um ótimo início de campeonato. Com oito vitórias, dois empates e uma derrota, os alvirrubros se classificavam para o turno final, sendo este o que decidiria o torneio. Após fracassar por três anos, o Bangu não se intimidou. Jogando catorze jogos, os banguenses venceram todos, e se sagraram, finalmente, os reis do Rio de Janeiro. O jogo final foi contra o revés Flamengo, que antes da partida, provocou os jogadores do Bangu com os dizeres de Almir Pernambuquinho, dizendo que a única volta olímpica que iria acontecer, seria a do Flamengo. Com o placar contando três gols para o Bangu e zero aos rubro-negros, o controverso atacante pernambucano causou uma confusão que resultou em oito expulsões, terminando o jogo e adiantando a festa no subúrbio carioca.

Foto do último título carioca do Bangu (Créditos: Memórias do Esporte)

O PÓS TÍTULO:

Posterior ao histórico torneio de 66, o Bangu defendia um título pela primeira vez depois de 33 anos. Apesar de chegar invicto ao jogo decisivo, o esquadrão suburbano não foi páreo para um dos maiores times da história brasileira. Em pleno Maracanã, Botafogo e Bangu disputaram uma belíssima e disputada partida, na qual o alvinegro venceu por 2-1 em um abarrotado estádio com 111 mil pessoas. Ainda assim, os suburbanos fizeram outra linda campanha, levando orgulho ao seu bairro.

OS SOMBRIOS ANOS 70:

Após sete anos de sucesso com a gestão Andrade e Silva, o Bangu sofreu ao longo dos anos 70. Sem ao menos incomodar os grandes por mais de 10 anos, os alvirrubros sentiam a falta de Eusébio de Andrade, antigo gestor do clube, e passaram anos difíceis nos campeonatos estaduais e nacionais. Em contrapartida dos anos anteriores, as participações do clube nos campeonatos não foram boas, algo que chamou a atenção de um nome influente no bairro de Bangu. O nome dele? Castor Gonçalves de Andrade e Silva, ou apenas, Castor de Andrade.

QUEM FOI CASTOR DE ANDRADE?

Nascido no bairro de Bangu e proveniente de uma família fortemente envolvida no jogo do bicho, Castor cresceu amando o Bangu e o samba, sendo os dois, protagonistas em sua vida. Devido ao jogo do bicho, seu pai tinha uma vida abastada, assim como sua família, dando ao Castor, uma infância despreocupada. Sendo assim, ao passar dos anos, Castor herdou a banca de bicho de seu pai, transformando em um império. De acordo com seu novo império, Castor se tornou um dos homens mais poderosos do país.

(Créditos: Terceiro Tempo)

CASTOR DE ANDRADE, O PODEROSO CHEFÃO BANGUENSE:

Antigo conhecido da torcida alvirrubra, Castor de Andrade obtinha uma influência inimaginável no clube. O antigo diretor de futebol obteve episódios assustadores dentro de campo. Em 1966, por exemplo, o mandatário do clube não ficou satisfeito com um pênalti marcado para o América, arquirrival do clube, que empatou a partida. Contudo, Castor se irritou, entrando em campo com uma pistola calibre 38 e ameaçando o árbitro da partida. Curiosamente, minutos depois o Bangu virou a partida com um pênalti duvidoso.

Obtendo uma rica banca de jogo do bicho, Castor decidiu investir seu dinheiro no futebol e no samba para legitimizar seu negócio durante os anos 80.

A DÉCADA DE OURO BANGUENSE:

Com o início dos investimentos no clube, o Bangu logo começou a fazer boas campanhas no Campeonato Carioca e no Brasileirão. Disputando a primeira edição da Taça de Prata, equivalente à segunda divisão, o Bangu logo conquistou o acesso. Fazendo duas boas campanhas na elite, o alvirrubro não ia adiante na competição. Ainda que tenha sido competitivo, o Bangu não passava da segunda fase do campeonato, gerando um desconforto em Castor e no Esquadrão da Malandragem, apelido dado aos experientes jogadores do clube.

O TRATAMENTO DO CASTOR DE ANDRADE AOS JOGADORES:

Don Corleone do subúrbio, assim era apelidado o homem forte do Bangu. Apesar de todas as polêmicas, Castor sempre foi elogiado por seus atletas. O tratamento do mandatário era tão nobre que comprava carros, casas e tudo possível e impossível para seus jogadores.

“Papai Castor convida todo mundo para mastigar uma carne macia e tomar uma cerveja, que garganta seca não solta palavra”, disse aos companheiros o experiente Moisés após um puxado treinamento, como publicou a revista Placar, em 1981.

A PRIMEIRA CAMPANHA SURPRESA:

(Créditos: UOL)

Após dois anos na elite, o Bangu necessitava de reforços, sendo esta necessidade, obtida no ano. Castor de Andrade decidiu renovar a equipe, trazendo o ponta Marinho, jogador que teve sua negociação fechada após Castor colocar um revólver na mesa. Posterior aos bons resultados no torneio, o alvirrubro finalmente passou pela segunda fase, indo às oitavas contra o São José. Sendo o primeiro jogo no Rio, os suburbanos tiveram a calma necessária, emplacando um bom resultado em Moça Bonita, e eliminando o São José fora de casa em um empate por 2-2. Após superar o São José, o Bangu enfrentaria outra equipe paulista, mas dessa vez seria o gigante Corinthians.

Diante de um Maracanã com um bom público, os suburbanos jogaram de igual pra igual, mas foram punidos aos 42 minutos do primeiro tempo, quando Casagrande fez a festa para os corinthianos. Apesar de levar a vantagem para o vestiário, o Corinthians precisou sofrer contra o esquadrão alvirrubro, que teve duas chances claras não aproveitadas no final do jogo e viu a vaga das quartas de final se afastar. Devido à melhor campanha na primeira fase ser corinthiana, o Bangu precisava vencer o Timão por dois gols de diferença.

Sabendo disso, os selecionados do suburbano não se intimidaram e partiram pra cima do Corinthians, abrindo o placar com Pedrinho Gaúcho no início da partida. Já no segundo tempo, a postura alvinegra foi outra. Apoiados por sua torcida, o Timão pressionou o Bangu, chegando no gol de empate aos 15 minutos da segunda etapa. Mesmo com uma missão difícil, os suburbanos não desacreditaram, e depois do gol paulista, só deu Bangu. Após muita pressão, os alvirrubros fizeram o segundo com Zé Lito, e só não silenciaram totalmente o estádio porque Dreyfuss perdeu uma oportunidade incrível aos 45 minutos.

1985 e a grande surpresa:

Após amargar dois anos de campanhas que deixaram a desejar, Castor de Andrade apostava no talento do craque do time, Marinho. Sendo assim, a equipe suburbana passou sem grandes sustos pela primeira fase, se classificando para a segunda fase, que era divida em quatro grupos de quatro times, sendo que os campeões de cada grupo avançavam à semifinal. Apesar de encarar um grupo com Vasco e Internacional, os castores não se amedrontaram e eliminaram os dois gigantes, se classificando entre os quatro melhores do campeonato.

Após provocar espanto no país, o Bangu estava na semifinal e enfrentaria o Brasil de Pelotas, outra grande zebra do campeonato. Com isso, os cariocas foram até o antigo estádio Olímpico e coparam Porto Alegre com um gol contra feito por Jorge Batata, que deu a vantagem para o segundo jogo ao Bangu. Posterior à partida, Castor de Andrade nem se preocupou com o jogo de volta, festejando em rede nacional com os dizeres: “Estamos na Libertadores, p****!”.

Sendo assim, dito e feito. O Bangu foi ao Maracanã diante de um estádio eufórico por uma possível final. Apesar de toda tensão, os comandados do técnico Moisés fizeram uma exibição de gala e venceram por 3-1. Sendo Marinho, o dono do espetáculo. Nem a torcida e a mídia resistiram ao espetáculo que o craque havia feito:

MARINHO – Nota 10 – O dono do espetáculo, melhor jogador do time e sem dúvida o melhor jogador do atual futebol brasileiro. Seus dribles lembram momentos de Garrincha; Cruzamentos são verdadeiros passes; seus chutes são certeiros. Fez um gol de bicicleta, deu passe para o primeiro e o terceiro concluiu uma jogada de pé em pé com alta categoria. – Assim relatou o Jornal do Brasil.

A GRANDE FINAL:

Por motivo de obter a melhor campanha, o Bangu teria a vantagem de ter o apelo de sua torcida, já que a final seria no Maracanã. Sendo assim, no dia 31 de julho de 1985, Bangu e Coritiba entravam no maior templo do futebol mundial para decidir quem seria o campeão brasileiro. Estavam ali duas zebras e dois timaços que eliminaram grandes clubes do futebol nacional. A primeira final sem uma equipe dos chamados 12 grandes, representava muito aos clubes que mereciam e merecem seu devido reconhecimento e respeito.

Após a bola rolar, foi visto uma pressão banguense do início até o fim da partida, que seria travada apenas uma vez durante o tempo regulamentar, sendo esta aos 23 minutos do primeiro tempo, quando Índio colocou o Coxa na frente da final. Mesmo atrás do placar, os alvirrubros não se deixaram abater. Logo após o gol curitibano, o Bangu empatou a partida com gol de Lulinha, que dava a tensão máxima ao time alviverde na partida.

Apesar de toda a pressão exercida pelos cariocas, a bola não entrava. O goleiro Rafael, do Coritiba, vivia uma de suas noites mais inspiradas da carreira. Com isso, a única bola que passaria do arqueiro do Coxa por mais uma vez, seria dos pés de Marinho, que viu mais de 100 mil pessoas explodirem o Maracanã e depois se frustrarem com o árbitro Romualdo Arpi Filho, que anulou o gol, ainda que o bandeirinha tenha corrido pro meio de campo e não tenha marcado o impedimento visto pelo juiz.

Festejo de Marinho no gol anulado (Ricardo Beliel/Placar)

Sendo assim, as duas equipes iniciaram a disputa pela prorrogação, na qual o Coritiba foi acusado de parar muito o jogo por excesso de cera por parte de seus jogadores, já que o time estava cansado.

OS PENÂLTIS:

Ainda que Marinho tivesse feito 3 grandes jogadas, nenhuma delas acabaram na rede adversária, ocasionando a partida ir aos pênaltis.

Posterior aos 120 minutos de jogo, os finalistas decidiriam a glória maior na disputa de pênaltis. Com isso, as cinco primeiras cobranças foram bem batidas e no alvo, para ambos os times. Sendo assim, a disputa ia ao tenso mata-mata, que forçava ainda mais o psicológico dos exaustos jogadores.

Através de toda a pressão envolvida, o banguense Ado correu pra bola e chutou pra fora. Ali estava a tristeza de toda dor e sentimento de azar, que infelizmente, para não só os banguenses, mas para todo carioca, o vice-campeonato seria coroado dessa triste forma. O sexto pênalti do Bangu foi fatal, já que o zagueiro alviverde Gomes, faria o gol para o Coritiba entrar na história do futebol brasileiro.

A TRISTEZA DO VICE E A ESPERANÇA DO ANO SEGUINTE:

Aqui está o relato do Jornal do Brasil sobre o abatimento dos jogadores:

Todos choraram. Ado estava inconsolável. No seu desespero, falou até em parar de jogar futebol. Mário também sentiu muito a derrota nos pênaltis. De todos, o mais controlado era Marinho, justamente a grande estrela da equipe e que teve a chance de decidir o jogo, no gol anulado por Romualdo Arpi Filho:

– O gol foi legal. Tenho certeza. Eu vim de trás. O bandeirinha também achou, tanto que correu com a bandeira arriada. Até o Rafael pensou que a jogada estivesse correta. Saiu em cima de mim com decisão. Só o juiz viu o impedimento – lamentou Marinho.

O gol anulado de Marinho gerou revolta, ocasionando até em um boato de que o árbitro Romualdo Arpi Filho, teria pedido um apartamento a Castor de Andrade, que diante da recusa do mandatário, prejudicou propositalmente o Bangu.

SEGUNDO SEMESTRE E O ANO SEGUINTE:

Apesar de haver frustração, Castor de Andrade não se abateu. Após o vice-campeonato, o chefe suburbano decidiu investir mais ainda no clube. Com contrações de Cláudio Adão e Arthurzinho, o Bangu vinha forte para o segundo semestre, prometendo causar sufoco no Campeonato Carioca. Mesmo com toda expectativa, o clube que era amado por todos, acabou sendo rejeitado pelos torcedores dos quatro grandes. Depois de adotar uma tática ofensiva, o técnico Moisés transformou a equipe, obtendo uma fama de futebol violento por parte de seus jogadores. Como resultado de toda violência da equipe suburbana, foi ocasionada uma das lesões mais famosas do futebol brasileiro. Durante aquele estadual é que Márcio Nunes deu um dos carrinhos mais feios e violentos já vistos, que vitimou Zico e o deixou fora dos gramados por um bom tempo. A equipe do Bangu também fez o craque do Fluminense, Assis, como uma de suas vítimas.

Ao final do campeonato, o Bangu se encontrava no triangular final do Campeonato Carioca, já que mesmo não vencendo nenhum turno, foi a equipe que mais somou pontos em todo torneio. Sendo assim, iam ao triangular final, Fluminense (vencedor da Taça Guanabara), Flamengo (vencedor da Taça Rio) e Bangu (equipe com mais pontos somados). Com isso, depois de duas rodadas, o triangular apontava uma espécie de final de campeonato para o último jogo. Após vitória do Bangu sobre o Flamengo e empate no Fla-Flu, os suburbanos poderiam levantar a tão esperada taça necessitando apenas de um empate.

A FINAL:

Diante de um Maracanã lotado, a bola rolava para um público aflito com as esperanças de título para ambos os lados. Apesar de ser o Fluminense o time que necessitava da vitória, foi o Bangu que iniciou a partida buscando o gol, e foi assim que o craque Marinho fez a torcida banguense explodir o Maracanã, logo aos 4 minutos de jogo. Sendo assim, os tricolores tinham uma missão difícil, precisando passar pela rígida defesa alvirrubra e marcar dois tentos para ser campeão. Com o placar adverso, os suburbanos se seguraram na partida, fazendo com que o Fluminense tivesse amplo domínio por todo segundo tempo.

Portanto, com a maioria da torcida no estádio e com grandes jogadores, o tricolor pressionou do início ao fim, conseguindo o gol de empate com Romerito, aos 18 minutos da segunda etapa, colocando um tempero picante na partida. Após a igualdade no placar, a pressão aumentou. Sendo assim, aos 31 minutos da segunda etapa e após intensa pressão do Fluminense, Paulinho cobrou uma falta com perfeição, que viajou até o ângulo do goleiro Gilmar e fez a torcida tricolor tremer o Maracanã.

Agora, a responsabilidade que era do clube das Laranjeiras, viajou até Bangu, mantendo a pressão psicológica para os jogadores alvirrubros, que necessitavam de um gol para levantar a taça. Com isso, os banguenses mostraram seu futebol ofensivo por intensos dez minutos, sendo o último do ponteiro, eterno. No último lance da partida, o zagueiro Vica bobeou, deixando Cláudio Adão entrar na área pra fazer o gol do título, sendo apenas impedido pelo puxão de camisa do próprio zagueiro no atacante. Pênalti claro. Apesar do estádio inteiro ter visto, o polêmico árbitro José Roberto Wright apitou o fim da partida no momento em que Cláudio Adão sofre a falta.

Os comandados de Castor na final do campeonato carioca de 85, na qual o Bangu foi vice.
(Crédito: Lance)

REPERCUSSÃO E REVOLTA PÓS-JOGO:

Um pênalti claro de Vica em Cláudio Adão, não marcado pelo árbitro José Roberto Wright, no último minuto de jogo, tirou a chance do Bangu (que jogava pelo empate) ser o campeão estadual de 85. E deu Fluminense o terceiro tricampeonato da sua história e o seu primeiro na história do Maracanã. Enfurecidos, os jogadores do Bangu partiram para cima do juiz, que foi peitado. Um segurança do Bangu tentou agredí-lo, mas levou um soco no rosto. No vestiário, Wright disse que terminou o jogo antes da jogada que originou o pênalti. O Fluminense venceu de virada por 2 a 1, gols de Romerito e Paulinho, contra Marinho. – Jornal Última Hora.

“Foi lamentável, desastrosa mesmo, a atuação do José Roberto Wright, que traiu a minha confiança. Aconteceram na decisão que não poderiam acontecer. E estranho é que o Wright estava vetado pelo Fluminense e, com espanto, vi o árbitro ser indicado para apitar a decisão”, disse Castor para o Jornal do Brasil.

1986 E LIBERTADORES:

Apesar da tristeza de Castor e de seus jogadores, o Bangu iniciava o foco para a maior competição continental sul-americana. Sendo assim, o poderoso chefão banguense contratou jogadores experientes para catimbarem as partidas e não sofrerem com provocações adversárias. Entre os novatos, trouxe o zagueiro Márcio Rossini, com passagem pela Seleção, e o meia Toby, um dos destaques do Coritiba campeão. Ainda que tivesse feito boas contratações, o time degringolou. Conforme Telê Santana, técnico da seleção, quis, o craque do time Marinho, desfalcava a equipe, deixando uma enorme saudade no conjunto alvirrubro. Com isso, o Bangu não embalou, indo mal no estadual e na Libertadores, na qual passou sem conquistar um triunfo na competição, sendo eliminado na fase de grupos.

Portanto, a esperança do time se deu na Taça de Ouro. Castor contratou o técnico Carpegiani, campeão da Libertadores e Mundial com o Flamengo. Junto à ele, chegaram os jovens Mauro Galvão, zagueiro ídolo no Internacional, e o jovem Neto, proveniente do Guarani, clube onde obteve grande destaque. Só que apesar de manter um ótimo plantel e ter um bom início, o time não deu liga, sendo eliminado na segunda fase do torneio. A fase era tão ruim que até mesmo Marinho, que não foi convocado para a Copa do Mundo, caiu de produção, gerando uma desconfiança de todo o elenco nas competições.

O ÚLTIMO GRANDE BANGU:

Em seu último suspiro de investimentos no clube, Castor contratou Paulinho Criciúma, que junto aos outros bons jogadores, fez o clube voltar aos últimos anos de competitividade, fazendo ótima campanha na Taça Rio, indo à final. Mais uma vez diante de um Maracanã lotado, daquela vez não passaria. Em contrapartida aos anos anteriores, os banguenses fariam dois tentos nos cinco primeiros minutos, com Marinho e Arthurzinho, sendo este, autor do terceiro e último gol, que daria o tão sonhado título ao Bangu na vitória sobre o Botafogo. Depois de anos de espera, Castor finalmente pôde comemorar, levantando a taça junto ao capitão Mauro Galvão.

Os comandados de Castor de Andrade prontos para a final da Taça Rio, na qual o Bangu seria campeão.
Time campeão da Taça Rio de 1987 (Créditos: bangu.net)

Contudo, ao contrário do que se esperava, após a pausa para a Copa América, o time perdeu fôlego no campeonato, perdendo a final decisiva para o Vasco de Roberto Dinamite e Romário por 3-0. Dessa forma, os bangueses até surpreenderam, indo até a semifinal do Módulo Amarelo e perdendo para o Sport naquele polêmico campeonato de 87. Após anos de investimentos, competitividade, grandes jogos e título, Castor começaria a retirar seu dinheiro do clube, já que estava enfrentando dificuldades em sua vida pessoal, de maneira que a Justiça se mantinha atenta aos passos errôneos do bicheiro. Com isso, Castor vendeu de uma só vez todos os craques do time, tirando seu foco do futebol e apenas investindo na Mocidade. Portanto, o Bangu fez uma campanha fraca no Brasileiro, sendo rebaixado e nunca mais voltando à elite brasileira.

O FIM DE CASTOR DE ANDRADE:

Apesar de haver seu lado folclórico, os bicheiros, como Castor de Andrade, viviam como mafiosos, sendo o futebol, usado como um plano para legitimizar seus crimes e negócios. Sendo assim, no ano de 1993, Castor de Andrade foi preso junto à outros treze chefes do bicho. Dentre eles, haviam Emil Pinheiro, Luizinho Drummond e Carlinhos Maracanã, sendo todos eles envolvidos no futebol e nas escolas de samba.

Vale lembrar que o futebol, ou qualquer atividade que envolva um público amplo, é usado para cativar e conquistar um apego dos “chefões” na comunidade. Atitudes como essa passam despercebidas em muitos casos, acontecendo diversos casos parecidos até nos dias atuais. Não se espante, o que ocorre com grandes magnatas que ajudam o Paris Saint-Germain, Manchester City e Chelsea, é parecidíssimo com o caso do Castor junto ao Bangu. Recentemente, o príncipe saudita Mohammed bin Salman, por pouco não comprou o Newcastle, clube tradicional na Inglaterra. Este sheik é acusado pela esposa de Jamal Khashoggi, por mandar matar o ex-jornalista morto no consulado da Arábia Saudita, em Istanbul. Vale ressaltar que o país saudita vive em uma ditadura, sendo Jamal um crítico ferrenho do governo da família real.

Após cumprir pouco tempo de sua pena na prisão, Castor conseguiu, na Justiça, o direito de cumprir o restante de sua pena em prisão domiciliar. Tal fato foi de suma importância para o bicheiro, já que desde sua casa, continuava comandando o crime organizado no Rio de Janeiro. Castor Gonçalves de Andrade e Silva morreu aos 71 anos, após desrespeitar, mais uma vez, a ordem judicial e se sentir mal durante um jogo de baralho na casa de seu amigo. No carnaval de 1998, público e foliões respeitaram um minuto de silêncio em respeito ao seu falecimento.

Em homenagem à Castor de Andrade, o animal castor foi eternizado na camisa banguense
(Crédito: Mantos do Futebol)

Confira também:

Carnaval FC: Minissérie de textos sobre equipes do futebol brasileiro que remetem ou tem relações diretas com agremiações de escolas de samba.

Tiago Emanuel

Jornalista em progressão e amante do futebol passional.
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