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Em meio a primeira onda do coronavírus, com mais de 8 mil mortos no Estado do Rio de Janeiro, o Campeonato Carioca está de volta. O Maracanã, que completou 70 anos nessa semana, será palco de dois ambientes extremos. De um lado, atletas privilegiados jogando futebol, do outro lado, um hospital de campanha com alto risco de contaminação e pessoas morrendo sem a chance de terem o mesmo cuidado dos jogadores de futebol.
Nessa quinta-feira, 18, a partida entre Bangu e Flamengo marca o reinício do Campeonato Carioca. Até pouco tempo criticado e tratado como prejuízo, o “cariocão” virou, de uma hora para a outra, um serviço essencial.
No dia 19 de maio, quando 1200 pessoas morreram pela COVID-19, os presidentes de Flamengo e Vasco se reuniram com o Presidente da República Jair Bolsonaro em Brasília. Eles tentavam forçar a volta do futebol, que acontece hoje. Faltava – não falta mais – o apoio do Prefeito do Rio, Marcelo Crivella.
Entretanto, toda mudança no registro ou na tabela da FERJ, deve ser publicada no site oficial em até 48 horas antes de qualquer partida, salvo quando o caso é considerado excepcional e por motivo de força maior. Assim, poderá conseguir uma brecha na lei. Portanto, é dessa forma apressada, que a federação estadual define a volta do Campeonato Carioca. Em um dia, faz uma reunião, no dia seguinte, começa a jogar. Não houve sequer o sorteio de arbitragem.
Grave esse tempo: 48 horas
Alto risco de contaminação. É ao lado dessa mensagem que veremos o grande confronto entre Flamengo e Bangu e tantos jogos "imperdíveis" do poderoso Campeonato Carioca, que até pouco tempo, queriam que acabasse.
Na noite de ontem, uma reunião entre a FERJ e alguns [+] pic.twitter.com/kcaVAjpdm2
— PressFut (@pressfutbr) June 16, 2020
A semana foi marcada pela FERJ fazendo arbitrais de segunda a quarta-feira. Como já sabemos, Botafogo e Fluminense se posicionaram contrários a volta do futebol e mantiveram-se firmes nessa posição. Acontece, que a federação marcou jogos dessas equipes mesmo sabendo que elas são contrárias. Por isso, os clubes vão parar na justiça. O pior de tudo, é que o intervalo entre os jogos, é de apenas 48 horas. Algo totalmente fora do padrão de 66 a 72 horas da FIFA.
No início da última década, surgiu no Brasil, o Bom Senso F.C. Um grupo de profissionais e ex-profissionais, que cobravam algumas condições de trabalhos. Entre as principais, uma reformulação no já apertado calendário do futebol brasileiro. Agora, após meses de inatividade, uma federação propõe um encurtamento desse mesmo calendário. Em entrevista para a PressFut, Jair Ventura falou da dificuldade de respeitar o regenerativo das equipes, que acontece justamente durante as primeiras 48 horas pós-jogo.
“Você praticamente não treina. Eu levo os jogadores para a sala, onde a gente mostra diversos vídeos, principalmente quando eles estão nas 48 horas da parte de regenerativo, onde a gente mostra as coisas positivas e coisas a melhorar.” – Jair Ventura para a PressFut.
Como transformar então, essas 48 horas de regenerativo, em uma semana completa de preparação? Não dá.
Problemas de lesão serão recorrentes no Campeonato Carioca
Em outra entrevista da PressFut, o auxiliar técnico e coordenador de formação do Vitória, Bruno Pivetti, falou sobre a importância da Periodização Tática na volta do futebol.
“Por meio da constituição do ciclo de treino na Periodização Tática, chamado Morfociclo Padrão, conseguimos uma organização da semana de maneira que seja respeitado ao máximo o binômio desempenho/recuperação. Isto garante com que os jogadores cheguem aos jogos em seu nível ótimo de rendimento.” – Bruno Pivetti para a PressFut.
Todavia, o ponto colocado por Pivetti, se referia ao já apertado calendário, que é o que acontece por exemplo, nas principais ligas europeias. Mesmo com toda a estrutura de primeiro mundo, e respeitando o calendário, logo nos primeiros 46 minutos do Arsenal na volta dos jogos, dois jogadores saíram lesionados. Compreensível para o período de inatividade. Portanto, com condições tão abaixas, podemos imaginar o que vai acontecer por aqui.
Não respeitamos o tempo biológico dos atletas e nem oferecemos estruturas ideais. Além do mais, falando em respeito, a FERJ e quem concorda com ela, joga futebol em cima de corpos mortos.
Maracanã sem torcida, mas com infectados
Tentando adiar o retorno dos jogos por mais um mês, o Botafogo anunciou que 5 jogadores testaram positivo para a COVID-19. Ainda assim, a FERJ pressiona a volta do clube. Em uma demonstração de caráter, Paulo Autuori, consagrado técnico do clube, disse que ele e sua comissão técnica pedirá demissão caso o time volte a jogar agora.
O Maracanã, palco da reabertura, conta hoje com um hospital de campanha na localidade. Mesmo assim, os três estádios considerados pilares para a volta do campeonato são: Maracanã, Nilton Santos e São Januário. Mais uma vez, a FERJ conta com o estádio do Botafogo sem consentimento, por isso, força a volta do clube.
Tragédia anunciada no Campeonato Carioca
June 16🇧🇷
Infection: 34918
Death:1282Am I crazy that I want to know a logical reason why we restart the league? 🤔
— Keisuke Honda (@kskgroup2017) June 17, 2020
A volta do futebol carioca acontece logo depois da reabertura de bares, restaurantes e shoppings. As estatísticas da COVID-19 no estado do Rio e no país continuam crescendo. Mesmo sem público nos estádios, a volta do futebol é um convite para aqueles que já estão furando a quarentena nos bares, se multiplicarem para assistir aos jogos. O mais engraçado, é que o jogo de reabertura por exemplo, não terá transmissão. O Flamengo, principal time do país no momento, se sujeitou a jogar futebol sem transmissão, sem exposição de patrocínios e sem renda de bilheteria. Como perguntou Casagrande, “por que a pressa, presidente (Rodolfo Landim)?”.
Para os clubes pequenos, essa pressa se justifica. Começando essa semana, o campeonato terminará no final do mês. Com isso, poderão se desfazer da equipe ao final da competição, sem nenhuma briga na justiça. Caso demitissem agora, sofreriam prejuízo com direitos trabalhistas. Contudo, tendo o respaldo de Flamengo e Vasco, conseguiram seus objetivos. O rubro-negro de Landim liderou a volta, e o Vasco de Campello, foi seu capacho.
Enfim, 87 mil casos de coronavírus no Rio de Janeiro, mais de 8 mil mortes. O Campeonato Carioca está de volta!