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A discussão sobre os direitos de TV no futebol brasileiro virou de vez uma pauta política. Disputas entre clubes e políticos marcam essa questão. Por isso, a discussão é muito importante e deve ser feita com maturidade.
Nos últimos meses, a briga pela volta do Campeonato Carioca apressou reuniões entre Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Jair Bolsonaro, Presidente da República. Uma das consequências dessas reuniões, foi uma Medida Provisória do governo, que muda completamente a negociação dos direitos de TV entre os clubes e as emissoras. Assim, o Flamengo, sem acordo com nenhuma emissora, poderá transmitir seus jogos quando for mandante.
A MP 984 faz com que os clubes mandantes das partidas possam ter mais autonomia na comercialização do próprio jogo. Dessa forma, é ele quem decide se passará em determinado canal (negociando com ele), determinada plataforma ou se até o próprio clube transmitirá a partida em streaming. Contudo, não é algo imediato, pois os clubes já possuem contratos vigentes. Além do mais, é apenas uma Medida Provisória, que pode ser derrubada a qualquer momento.
Todavia, surgiu uma nova Emenda à Medida Provisória. O deputado Pedro Paulo, conhecido por trabalhar no projeto de clube-empresa no Brasil, adicionou reformas que são, basicamente, contrapontos. Entre os destaques estão a obrigatoriedade dos clubes formarem uma liga para organizar a competição, negociando os direitos de forma conjunta, e uma distribuição mais justa dos recursos. Ele propõe mais equilíbrio, com uma diferença de no máximo cinco vezes entre o clube que mais recebe e o que menos recebe. Ao longo dos anos, essa diferença cairia ainda mais, para até três vezes.
Quais são as diferenças?
Enfim, nada que surpreenda. Olhar para o próprio umbigo foi o que levou nosso futebol para esse estado de penúria em relação às ligas de ponta do mundo. Só vai aumentar a distância.
— Leonardo Bertozzi (@lbertozzi) June 18, 2020
Como podemos observar, a MP 984 propõe em sua primeira versão, negociações totalmente individuais. Em uma de nossas últimas matérias (clique aqui para ler), falamos sobre o fato do nosso futebol estar cada vez mais ultrapassado por conta desse individualismo brasileiro. Enquanto as principais ligas do mundo agem de forma coletiva beneficiando todos os times para tornar os campeonatos competitivos, o Brasil faz uma MP que copia os modelos de México e Portugal.
Em contrapartida, a nova Emenda propõe negociações coletivas. Além disso, a parte de distribuição de recursos tenta de alguma forma trazer o modelo da Premier League para o Brasileirão.
O que acaba complicando um pouco e pode ser um empecilho, é a obrigação da criação de uma liga que a Emenda impõe. Contudo, vale destacar que foi dessa forma, obrigando os clubes, que a Espanha conseguiu igualar mais o campeonato distribuindo a renda de Real Madrid e Barcelona para os outros clubes, aumentando a competitividade das equipes médias.
Por isso, voltando a lembrar do projeto de clube-empresa no Brasil, realmente é importante impor a profissionalização dos clubes. Em outra matéria (clique aqui para ler), lembramos que nossos clubes como ONGs, contribuem demais para a corrupção e a má gestão. Ou seja, obrigar a criação de uma liga por parte dos clubes, talvez não seja a melhor forma, mas é necessário para que as coisas funcionem de forma mais profissional.
Direitos de TV no Brasil e no mundo
Como já citado, o futebol brasileiro vai na contramão de toda a evolução do futebol mundial. Da mesma forma, os direitos de transmissão são negociados de forma diferente. Enquanto quatro, das cinco principais ligas do mundo negociam de forma coletiva, o Brasil negocia de forma individual e continua propondo outras formas individuais de se negociar.
Mais uma vez, o Brasil se mostra o “diferentão” da história. O campeonato é mais desigual e também não expande sua marca. Contudo, é importante destacar nesse quesito, que existem formas diferentes de se distribuir os direitos. Da mesma forma que o Brasil hoje trabalha com o modelo individual e pretende mudar para outro modelo individual, a Europa trabalha com modelos coletivos mas que também se diferenciam entre seus direitos.
Dessa forma, é possível fazer alterações necessária com o passar do tempo. Na Inglaterra por exemplo, os clubes da segunda divisão se arriscam demais para chegarem na Premier League. Quando conseguem, acabam usando o dinheiro para ajustar as contas, todavia, pode não dar certo e o clube pode acabar enfrentando dificuldades. Burnley e o Brighton por exemplo, chegam a ter 85% da receita atrelada à TV.
A discussão é importante
Portanto, é válido discutir maneiras para melhorar os direitos de transmissão no Brasil. Mas antes de tudo, é preciso entender que isso deve ser feito em comum acordo. Modelos individualistas só servem para benefícios próprios, prejudicando a competitividade. Com a MP 984, equipes de menor investimento ou menor expressão, acabam tento dificuldades de transmitir seus próprios jogos. No dia em que surgiu a MP, por exemplo, de nada adiantou para o Bangu, que enfrentou o Flamengo. A equipe não tem estrutura para fazer transmissão.
A nova emenda é muito mais compreensível e valoriza o aspecto coletivo. É preciso que as mesmas equipes que lutaram por melhorias nos direitos elaborando a MP 984, se mostrem de acordo com direitos coletivos. Caso contrário, fica evidente que é cada um por si e o futebol brasileiro no fundo do poço.