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Classificado para a Copa do Mundo de 1970 de forma invicta e resgatando o orgulho brasileiro, João Saldanha foi demitido. Combatente da ditadura, enfrentou o governo Médici e acabou sendo trocado durante os amistosos de preparação para a competição.
Ontem, dia 21 de Junho de 2020, foi aniversário de 50 anos do tri campeonato mundial da Seleção Brasileira. Todavia, contaremos hoje não a história dos craques que se destacaram, como Jairzinho e companhia, mas de alguém que foi tão importante quanto.
João Saldanha, o “João sem medo” – assim denominado por Nelson Rodrigues – foi o grande arquiteto daquele título mundial. Pelos mais polêmicos motivos, João não participou da competição. Foi demitido durante os amistosos de preparação e, como de praxe, colocou a boca no trombone.
É difícil precisar exatamente se tudo que o ex-jornalista disse é verdade, entretanto, a lógica é contundente. Ele não foi o único e nem o último a sofrer algum tipo de censura ou perseguição da ditadura brasileira.
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O João Saldanha
João Alves Jobim Saldanha nasceu em Alegrete, Rio Grande do Sul. Desde cedo, sua vida foi bem agitada com a participação da família na Revolução de 1923. O pequeno João, de 6 anos, ajudava no contrabando de munições entre Brasil e Uruguai.
Anos depois de se refugiar e voltar para o Rio Grande do Sul, João se mudou para o Paraná, onde entrou em contato com o Athletico Paranaense. Para apoiar Getúlio Vargas, o pai de João voltou para o Rio Grande do Sul e reencontrou a família já no Rio de Janeiro, com Getúlio se tornando Presidente do Brasil.
Foi no Rio de Janeiro que João Saldanha começou a carreira de jogador pelo Botafogo. Contudo, sem muito destaque, largou a carreira e se formou em Direito e Jornalismo. Mas antes e durante essas formações, ele se aventurou como técnico, diretor e intérprete no próprio Botafogo. Como treinador, conseguiu mais destaque, sendo Campeão Carioca em uma final histórica que terminou em 6 a 2 para o Botafogo contra o Fluminense.
Foi também na época de diretor, que ele esteve clandestino como dirigente do PCB, o Partido Comunista Brasileiro. Opositor da ditadura, João aproveitou a carreira de Jornalismo para falar sobre futebol e política.
Seleção Brasileira
Na década de 1960, após a passagem vitoriosa no Botafogo, João Saldanha voltou para o jornalismo, na Rádio Guanabara, hoje Bandeirantes AM. Ali conquistaria os brasileiros com tantos comentários carregados de conhecimento. Politizado, João não se limitava a comentários rasos sobre o futebol. Foi justamente por conta de sua visão de jogo, que havia sido contratado como técnico do Botafogo e, futuramente, pela Seleção Brasileira.
Os pedidos para ele assumir a seleção eram grandes e foram atendidos. Ele era a voz mais respeitada quando o assunto era Seleção Brasileira, ainda mais depois do fiasco na Copa do Mundo de 1966. Mesmo com alguns preconceitos, como por exemplo, os black powers. João entendia que o cabelo grande atrapalhava a visão dos jogadores e amortecia a bola na hora do cabeceio.
Em 1969, a CBD surpreendeu com o anúncio do novo treinador. Mesmo sabendo de seu posicionamento esquerdista, ele foi contratado. Usando Santos e Botafogo como times base, João Saldanha montou um time de craques que venceu todos os jogos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. Resgatando o orgulho brasileiro, Saldanha classificou o Brasil com a maior facilidade do mundo.
Entretanto, não deixava de criticar a ditadura militar. Principalmente, depois que Médici chegou ao poder, endurecendo a repressão. No final do ano, Marighella, amigo de João Saldanha, seria assassinado, despertando a ira do treinador. Como citado por Reinaldo, João montou um dossiê citando mais de 3.000 presos políticos e centenas de mortos e torturados pela ditadura brasileira. No sorteio da Copa, em janeiro de 1970, ele distribuiu o dossiê a autoridades internacionais no México.
A queda de João sem medo
Por isso, Médici começou a pressionar a queda do treinador. O general começou a fazer pedidos de convocação, como a de Dadá Maravilha, e Saldanha respondeu de forma histórica.
“Ele [Médici] escala o ministério, eu convoco a seleção. Quando ele formou o Ministério não me pediu opinião. Por isso não quero a opinião dele na hora de eu formar o meu time.“ – João Saldanha em resposta para a imprensa.
Contudo, isso seria sua carta de despedida. Duas semanas depois, durante os amistosos de preparação para a Copa, Médici demitiu João Saldanha. Na ocasião, contratou Zagallo e usou a desculpa de resultados ruins nesses amistosos. Dadá Maravilha, que Médici tanto pedia, foi convocado, entretanto, não disputou nenhum jogo.
Carlos Ferreira Vilarinho, autor do livro “Quem derrubou João Saldanha”, disse ao programa Roda Vida, em 1985, que Médici nunca tinha visto o Dadá jogar. Tudo não passava de birra com um opositor do governo que voltaria como herói após a conquista da Copa do Mundo.
Antes de morrer, durante a cobertura da Copa de 1990, João Saldanha tocou no assunto pela última vez.
“A pressão foi ficando insuportável. Por gente da própria CBD e da ditadura. Era difícil tolerar um cara com longa trajetória no Partido Comunista Brasileiro ganhando força, debaixo da bochecha deles”.