- Rodrigo Capelo: Copa América não se justifica nem do ponto de vista financeiro - 8 de junho de 2021
- Precisamos valorizar o posicionamento de Neto e Casagrande - 30 de dezembro de 2020
- Poder e representatividade negra no esporte - 20 de novembro de 2020
Em meio a uma pandemia, vivemos um momento crítico em que cada vez mais surgem mais pautas sociais para escancarar a desigualdade social no Brasil e para quebrar paradigmas racistas, sexistas, xenofóbicos e entre outros assuntos que devem ser abordados por impactar fortemente a sociedade. Com isso, faz-se necessário que o meio futebolístico utilize sua visibilidade e poder para acompanhar essa onda de reivindicações sociais visando o progresso, e o posicionamento dos comentaristas esportivos e ex-jogadores Walter Casagrande e Neto representam o cumprimento desse papel.
Quando falamos de Casagrande e de Neto podemos conduzir o rumo da conversa para diversas narrativas. Ambos têm em comum um forte laço de idolatria com o Corinthians graças às suas respectivas carreiras como atleta do clube, por exemplo. Se falamos da trajetória de ambos no jornalismo esportivo, sobretudo televisivo, podemos destacar a participação como comentarista de Casagrande em diversas copas do mundo pelo grupo Globo e dos programas que unem entretenimento e esporte que o Neto conduziu e conduz na Rede Bandeirantes.
Infelizmente, é comum encontrarmos em redes sociais diversos atos de ridicularização contra Casagrande — por ter se envolvido em vícios com drogas pesadas no passado — e Neto — pelo tom entretivo e muita das vezes humorístico de seus programas. Obviamente, esses ataques só acontecem porque, para muitos covardes, a internet é uma terra sem lei. Entretanto, temos que destacar o poder da fala que ambos vêm adotando em seus espaços na TV. Definitivamente, Neto e Casagrande são casos raros do bom uso do espaço esportivo na TV para também lidar com pautas sociais e políticas.
Cuidados com a saúde e a relação do futebol com a pandemia
Como o próprio Casagrande conta em um de seus livros (Casagrande e seus demônios), a dependência em drogas pesadas transformou a sua vida em um verdadeiro inferno e por pouco ele não morreu graças aos seus vícios. Felizmente, Walter Casagrande teve a chance de se tratar continuamente para se manter limpo. Posteriormente, assumindo o papel de lutador contra o vício, o “comentarista rock and rool” aproveita sua visibilidade para falar esclarecidamente sobre esse tabu.
Ao participar do programa ‘Altas Horas’, em 2018, Casagrande falou um pouco sobre como a dependência química funciona:
“O dependente químico é um dos primeiros da lista de preconceitos. A sociedade não sabe ou não entende ou ainda não é esclarecida que a dependência química é uma doença. A grande maioria acha que é um marginal: ‘Pô, vai trabalhar que você para de usar droga’. Isso não é real. No meu caso, no final, antes de eu ser internado, eu não queria mais e não conseguia parar.”
Ainda tendo a saúde como tema, Neto tem dado diversos discursos em favor da vacinação contra o coronavírus e da adoção de medidas preventivas contra o vírus, em seu cômico programa: Donos da Bola. Ao saber que Neymar e Gabigol iriam organizar grandes festa no final do ano, Neto (que já contraiu o vírus no final de setembro) repudiou a atitude infeliz dos jogadores com o seguinte discurso:
“Quando eu vejo 200 mil pessoas morrendo de covid, e eu quase morri de covid, como você pode dar uma festa? Não é só o Neymar e o Gabigol, são todas as pessoas que estão dando festa. Como é que pode dar festa? Quando vocês fazem isso, as outras se sentem no direito de fazer também! E quando as pessoas se sentem no direito de fazer também, o que acontece? As pessoas morrem”
Reivindicações políticas e sociais através do futebol
A fim de fomentar o debate sobre direitos cívicos, Neto e Casagrande sempre tocam em pontos socialmente e politicamente relevantes sempre visando a diminuição da desigualdade em todos os seus sentidos de direito. Aliás, Casagrande já discursava a favor do ampliamento dos direitos políticos desde que jogava no Corinthians na década de 80, quando lutou contra a ditadura sendo um dos precursores da “Democracia Corinthiana” ao lado de Sócrates e outros jogadores.
Neto e Casagrande sempre estão dispostos a usar do meio comunicacional futebolístico para comentar sobre assuntos que envolvem desigualdade racial e de gênero, por exemplo. Como podemos ver nas respectivas falas de Neto e Casagrande:
“Falar do racismo é uma coisa muito f…, porque, se você entrar no Shopping Cidade Jardim, quantos negros estão fazendo compras? Se você olha dentro das lojas, quantos negros trabalham? Então, pera um pouquinho, qual a oportunidade que o mundo dá para os negros? Nós estamos aqui dentro da sala e não tem um negro, e a gente não enxerga isso, porque parece uma coisa natural. E não é. Nós somos um país racista.”, disse Neto.
“Eu sou um cara que veio da periferia, e meus pais me ensinaram a ter respeito por todas as pessoas, independentemente de qualquer diferença. Eu cresci dessa maneira e sou desse jeito. A sociedade não aguenta mais a violência, a opressão, o racismo, a homofobia, feminicídio.”, disse Casagrande.
Precisamos de mais
Como disse no início desse texto, é fácil achar insultos direcionados a Neto e Casagrande nas redes sociais. Contudo, também temos que se atentar para a alta compartilhação dos discursos progressistas dos comentaristas, entre essas redes digitais. Walter Casagrande e Neto, seja em um programa esportivo mais focado em entretenimento ou em um programa que reúne comentários técnicos sobre o esporte, esbanjam um poder de comunicação social que é mais do que necessário no futebol. Precisamos de mais Casagrande’s e Neto’s.