Torcedores da Lazio fizeram apologia a Mussolini.
Futebol, Futebol Internacional

Racismo: Por que tão recorrente no futebol italiano?

Daniel Dutra
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O passado não pode ser pretexto para a falta de atitude dos órgãos responsáveis pela realização do espetáculo. O futebol italiano precisa urgentemente de medidas sérias contra o racismo.


Não é novidade nenhuma que a Itália é um país com uma boa dose de racismo e a história deles ajuda muito a manter essa triste tradição. Mas estamos em 2020 e o futebol italiano vive uma temporada pior do que as da década passada em relação aos atos de racismo.

No começo da temporada – ano passado – chegamos a ter no mínimo um caso de racismo por rodada. O que assustou muita gente, inclusive o treinador Italiano Antonio Conte, que voltou para o futebol italiano e notou o clima nos estádios e no próprio país.

“Voltei depois de três anos e achei tudo pior. Muito ódio e ressentimento. É só para insultar e fomentar o ódio, isto é muito mau. Isso existe na Itália e está ficando cada vez pior.” – Antonio Conte sobre o futebol italiano.

Complacência com o racismo

São cânticos racistas e até faixas apoiando Mussolini, que no caso, só recebeu uma punição de 10 mil euros, enquanto uma faixa antifascista, recebeu punição de 15 mil euros. Mussolini foi um líder fascista que ficou marcado na história como um dos maiores vilões do planeta. Teve seu corpo hasteado como prêmio pela população depois de morrer.

A cultura é tão entranhada que jogadores como Bonucci, tentam defender a torcida depois de ver um companheiro sofrendo racismo.

“Eu acho que ele tem 50% de culpa, porque Moise (Kean) não deveria comemorar diante da torcida adversária e os torcedores não teriam reagido dessa maneira.” – Bonucci em entrevista que repercutiu negativamente no mundo todo na temporada anterior.

Kean e Bonucci disseram muito sobre o racismo no futebol italiano
Kean e Bonucci pela Juventus. Hoje Kean joga no Everton da Inglaterra. Crédito: Zuma Press/PA Images

Ainda no ano passado, no começo da temporada, o Milan foi o primeiro a tomar alguma providência ao anunciar a criação de uma “força tarefa contra o racismo” na Itália. O projeto estreou “homenageando” atletas tanto do Milan quanto da Inter, vítimas desse preconceito.

A atitude veio após o Milan visitar o Hellas Verona e, como resultado, ver Kessie – jogador rossoneri – ser vítima de gritos racistas. Mas não foi apenas por isso, na verdade, esse foi o estopim de uma prática recorrente que, para piorar, recebe o apoio de clubes como nesse próprio caso, onde o perfil oficial do Hellas, postou dois tweets defendendo a torcida e dizendo que não houve racismo.

“Dissemos ‘buuu’ para Kessie? Os insultos a Donnarumma? Talvez alguém tenha ficado atordoado com os decibéis do tifo azul-amarelo. O que ouvimos?”

“Assobia, inevitavelmente, decisões de arbitragem que ainda nos deixam muito perplexos e, em seguida, muitos aplausos aos nossos “gladiadores” no final da corrida. Nós não expiramos em clichês e etiquetas agora descoladas. Respeito por Verona e pela área de Verona. #respect”

Infelizmente, essa atitude não foi a pior. Rodadas mais tarde, chegou a vez de Balotelli sofrer racismo da torcida do Hellas. Ele chutou a bola na torcida, ameaçou abandonar o jogo mas voltou e marcou um golaço. Mas incrivelmente deu para piorar. Dessa vez, não foi o clube, mas o prefeito de Verona que repudiou Balotelli e apoiou os atos de racismo. Tem como piorar? Certamente. Da mesma forma, a torcida do Brescia, próprio clube do jogador, chamou ele de arrogante, macaco e defendeu os racistas. Perguntado sobre os incidentes, o Presidente do Brescia disse o seguinte absurdo:

“É negro, o que devo dizer? Está trabalhando para se clarear, mas está com dificuldade”.

Campanha antirracista gera polêmica
Campanha “antirracismo” do Campeonato Italiano gerou polêmica por ser representada por macacos. Crédito: Reprodução Internet

Mesmo tomando atitudes, o Milan ainda precisa comer muita grama para se provar santo. Na última temporada, Bakayoko era o melhor jogador do time, vivia uma boa fase após “não dar certo” no Chelsea e queria ficar no clube. Mas então, sofreu seus primeiros grandes atos de racismo.

Chateado com a situação, Bakayoko cobrou providências, mas viu Gattuso – então treinador e ídolo do time – dar uma bronca e tirar sua vaga da equipe titular. Depois disso o clima acabou e o atleta foi embora com a intenção de nunca mais voltar para a Itália.

As poucas atitudes contra o racismo no futebol Italiano

Seguindo a recomendação da FIFA, o árbitro Daniele Orsato foi o primeiro a paralisar um jogo na Itália após o brasileiro Dalbert, da Fiorentina, reclamar da torcida da Atalanta. Mesmo com o som do estádio avisando para pararem, a torcida da Atalanta apenas diminuiu com o tempo os cânticos, mas não foi nada cordial.

Depois do Milan, outros clubes começaram a tomar certas atitudes. Rival da Lazio até na ideologia desde os tempos mais sombrios, a Roma é quem mais luta contra o racismo no futebol italiano. Até mesmo na Internet. Após mais um caso de racismo contra um brasileiro – dessa vez Juan Jesus – o clube denunciou o comentário no Instagram à polícia e proibiu o torcedor de ir em jogos do time para sempre.

Portanto, como vimos, existe um balanço entre as boas e as más atitudes dos clubes. Até mesmo quem costuma acertar, acaba errando em algum momento. É um dilema que o futebol italiano vem enfrentando e alguns clubes começam a se movimentar em busca do respeito e da evolução.

Em suma, a Confederação Italiana precisa intervir em muitos momentos. Ela é complacente com certos atos ao deixar de punir e até mesmo de se manifestar. Antes da nova regra da FIFA, os torcedores sequer eram advertidos, por isso, os clubes foram os primeiros a tomarem a rédea da situação. O que é bom por um lado e ruim por outro.

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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