Futebol, Futebol Nacional

Conheça a tradição de Desportiva e Rio Branco, os protagonistas do Clássico dos Gigantes Capixabas

Fora dos holofotes do futebol brasileiro e distante das cifras dos clubes de Rio e São Paulo, Desportiva e Rio Branco, apesar de tudo, esbanjam tradição e uma forte rivalidade pelo Espírito Santo. Conheça a maior partida de futebol em solo capixaba.


ESPÍRITO SANTO:

Ainda que esteja próximo do maior centro socioeconômico do Brasil, o estado do Espírito Santo, mesmo com sua beleza natural, é esquecido por grande parte do país. O nome do estado se deve ao dia em que Vasco Coutinho, líder e donatário da terra, desembarcou no território em 1535, curiosamente em um dia dedicado ao Espírito Santo. Com isso, a religiosidade se intensificou na região, levando a construção de seu maior monumento, o Convento da Penha, que abriga em seu acervo, a tela mais antiga da América Latina, a imagem de Nossa Senhora das Alegrias.

Vista do Convento da Penha junto a Terceira Ponte, que liga Vitória e Vila Velha (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Dados do Espírito Santo:

Capital: Vitória

Município mais populoso: Serra

Área: 46.095,583 km²

População: 4.064.052 habitantes

PIB: R$ 137.020 bilhões

IDH (2017): 0,772 (9˚)

O CLÁSSICO:

Duro duelo entre os rivais Desportiva e Rio Branco, em 2016 (Foto: Henrique Montovanelli/Desportiva)

Devido a quantidade de títulos, torcida e tradição, Desportiva Ferroviária e Rio Branco fazem o maior confronto do estado, partida conhecida como “Clássico dos Gigantes”.

RIO BRANCO: 

Belo escudo do Rio Branco (Créditos: Reprodução)

O dia 21 de julho de 1913 marca a data em que os jovens José Batista Pavão, Antônio Miguez e Edmundo Martins, decidiram criar um clube de futebol por não haver possibilidade de jogar no Vitória, clube que só aceitava membros da elite e brancos em seu time. Embora nos dias de hoje seja nomeado de outra forma, inicialmente o Brancão se chamava Juventude e Vigor. Apenas um ano após sua criação, é que foi decidido alterar seu nome, em homenagem ao então Chanceler José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão de Rio Branco.

DÍVIDAS E PERDA DA CASA: 

Após a sucessão de má gestões administrativas no clube, o Rio Branco acabou perdendo seu estádio para o governo do estado. Sendo assim, foi decidido, naquela mesma área, construir o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), renomado núcleo estudantil da região. Embora não tão conhecido, o antigo Estádio Governador Bley era o terceiro maior do país, atrás apenas das Laranjeiras (Fluminense) e São Januário (Vasco).

O antigo Estádio Governador Bley (Foto: Reprodução)

Devido a falta de uma casa ao clube, a diretoria do Brancão decidiu construir um estádio em Cariacica, com um projeto ousado para 80 mil espectadores. Embora ter havido uma grande expectativa, o Estádio Kleber Andrade nunca teve suas obras finalizadas, sendo inaugurado longe de sua antiga meta estimada. Apesar de tudo, o “Klebão” já obteve bons públicos, sendo o maior deles em uma partida entre Rio Branco e Vasco, válida pelo Brasileirão de 1986 e vencida pelo clube capixaba.

Imagem via satélite do antigo Estádio Kleber Andrade (Créditos: Google Earth)
Rio Branco x Vasco, partida de maior público da história do Kleber Andrade (Foto: Gildo Loyola/A Gazeta)

Ainda que obtinha uma ótima fonte de renda, o clube alvinegro se viu debaixo de inúmeras dívidas, precisando, em 2008, vender seu estádio ao governo. Dessa forma, tal venda possibilitou ao clube pagar inúmeras dívidas e retomar sua sede administrativa em Vitória. Posterior a venda, o estádio foi remodelado, tendo capacidade para 21 mil pessoas e recebendo inúmeras partidas dos clubes cariocas e da seleção olímpica.

O remodelado Kleber Andrade (Créditos: Fernando Madeira/A Gazeta)

DA ÉPOCA DE OURO AO FRACASSO:

Apesar de já haver conquistado seis campeonatos, de 1917 até o ano de 1934, o Rio Branco enfrentava com maior dificuldade, o adversário América, que também ocupava o posto de maior vencedor junto ao Brancão. Entretanto, depois de longos anos no páreo, o antigo “Mequinha” não foi suficiente para parar o fenômeno alvinegro. Com 13 títulos estaduais em 18 temporadas, o Rio Branco se firmou como o clube mais vencedor do estado. Desse modo, obtendo como um grande orgulho, o hexacampeonato de 1934-1939, o clube ostenta um feito jamais alcançado por qualquer equipe do Espírito Santo. Por fim, o Rio Branco também conquistou um bi-campeonato (1941-1942), um tri (1945-1947) e mais dois títulos (1949 e 1951). Após isso, o clube alvinegro venceu mais 5 torneios estaduais, mas como estava muito fácil, surgiu um oponente em seu caminho.

DESPORTIVA FERROVIÁRIA:

Belíssimo escudo da Desportiva (Créditos: Site Desportiva)

Resultado de uma fusão de cinco clubes financiados pela Companhia Vale do Rio Doce, no dia 17 de junho de 1963 foi fundada a Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce, mais conhecida como Desportiva Ferroviária.

INÍCIO FULMINANTE:

Embora ter sido fundada em 1963 e apesar de ser válido pelo Capixabão de 1964, o primeiro campeonato disputado pela Desportiva foi apenas em 1965, por conta do desorganizado calendário da época. Sendo assim, o clube de Cariacica teve tempo de se estruturar e receber o investimento da Vale, que certamente ajudou os ferroviários em seu primeiro torneio.

Apesar de ver o “papa-títulos” Rio Branco conquistar o primeiro turno do Estadual, a Desportiva surpreendeu a todos e levantou a taça do segundo turno, forçando uma final contra seu futuro rival. Apesar de todo favoritismo estar do lado alvinegro, a Tiva foi valente e venceu os dois jogos finais, conquistando em seu primeiro torneio disputado, o primeiro título.

Contudo, a primeira glória não era suficiente. Diante de uma bela parceria com a Vale, a Desportiva recebeu, da empresa, um belo e novo estádio. Construído em 1966, o Estádio Engenheiro Alencar Araripe foi levantado para receber 36 mil torcedores. Além disso, o clube que possuía as cores amarelo e verde, passou a ser fardado de grená.

O MONUMENTAL:

Lar doce lar de todo apaixonado pela Locomotiva, o “Caldeirão” abriga cerca de 8 mil torcedores, mas tem como oficial, seu maior público em uma partida entre Flamengo e Vitória, onde estavam presentes 27.600 torcedores. O top-3 envolvendo a equipe grená apresenta: Desportiva 0 x 2 Atlético Mineiro (27.232 – Brasileirão 82), Desportiva 0 x 0 Rio Branco (27.010 – Capixabão 85) e Desportiva 1 x 0 Flamengo (24.363 – Brasileirão 73).

Casa grená com bom público em dia de jogo (Foto: Henrique Montovanelli/Desportiva)
Estádio Engenheiro Alencar Araripe (Foto: Reprodução)

BICAMPEONATO E A MÁQUINA IMBATÍVEL:

Após sua primeira glória ter sido alcançada, por mais um ano ninguém foi páreo ao nível dos grenás. Diante de uma campanha histórica, com 8 vitórias e 2 empates, a Tiva se sagrou campeã invicta no ano de 1966 (válido pelo ano de 1965). Apesar de todo o favoritismo que vinha para o próximo torneio, a Desportiva não foi bem, fazendo o Rio Branco abrir vantagem e ser campeão após 4 anos de seca.

Já no ano de 1967, os grenás obtiveram um feito invejável e jamais alcançado. Com 51 partidas invictas, de fevereiro de 1967 até fevereiro de 68, a Desportiva obteve o orgulho de fazer a maior série invicta de um clube brasileiro. Infelizmente, para os ferroviários, o feito do clube foi superado pelo Botafogo em 1977, e hoje a Tiva ocupa o terceiro posto em tal classificação.

Com isso, das 49 partidas que se tem conhecimento exato do placar, a Desportiva fez 118 gols, sofrendo apenas 24 durante um ano. Diante de um ano de invencibilidade, a Tiva emplacou um Torneio Início e um Estadual, sendo o Capixabão, vencido em dois turnos. Esse foi o terceiro Estadual da história da Locomotiva, sendo o seu segundo invicto.

OS RIVAIS EM COMPETIÇÕES NACIONAIS:

Ainda que haja pouco conhecimento de façanhas nacionais dos rivais capixabas, tanto Desportiva quanto Rio Branco já “aprontaram” ao longo do país. Contando como competições nacionais, os campeonatos desde 1959 até 1970, o retrospecto de ambos mostra vantagem alvinegra:

  • Participações: Rio Branco – 5/ Desportiva – 3
  • Melhor Campanha: Rio Branco – 7º / Desportiva – 14º
  • Mais vitórias: Rio Branco – 3 / Desportiva – 1

Entretanto, contando apenas as campanhas a partir dos Campeonatos de 1971, a vantagem é grená:

  • Participações: Rio Branco – 7/ Desportiva – 12
  • Melhor Campanha: Rio Branco – 20º/ Desportiva – 15º
  • Mais vitórias: Rio Branco – 10/ Desportiva – 9
  • Fase máxima alcançada: Rio Branco – 2º fase (antes das oitavas)/ Desportiva: 3º fase (antes das semis)

DESPORTIVA E O ANO DE 1980:

Time base do Campeonato Brasileiro de 1980 (Foto: Josema-Magnago)

O ano de 1980, assim como o anterior, foi bastante marcante na vida do torcedor grená. Estreando com vitória em cima do atual campeão Guarani, a Tiva já dava indícios de que seria páreo duro aos adversários. Ainda na primeira fase, a Locomotiva protagonizou uma vitória heróica contra o Palmeiras, conseguindo, também, dois triunfos nas rodadas finais, que ajudaram o time a se classificar.

Na segunda fase, o time grená caiu em um grupo com Coritiba, Remo e Ferroviário (CE). Sendo assim, a Desportiva sofreu duas grandes goleadas, um 7-1 ante o Coxa e um 5-0 contra o Remo, no Pará. Apesar disso, a Desportiva soube fazer seu dever de casa, passando invicta no Espírito Santo, algo que deu “gás” para o time passar para a 3º fase.

Já na 3º fase, a disputa era ainda mais complicada. Com apenas uma vaga para as semifinais, a Desportiva necessitava causar uma enorme zebra em um grupo com Flamengo, Santos e Ponte Preta. Embora enfrentada como “azarão”, a Locomotiva não deixou a desejar. Perdeu para o Flamengo por 3-0 em uma noite inspirada de Zico, empatou jogando com 10 jogadores contra o Santos em plena Vila Belmiro lotada e venceu a Ponte Preta por 2-1 no jogo final. Apesar de toda dificuldade, a Desportiva terminou em terceira, empatada em pontos com o Santos, e dois pontos atrás do líder Flamengo, que viria a ser o campeão.

Outro fato curioso da campanha de 1980, é a façanha de Botelho, ponta esquerda e único jogador na história do futebol capixaba a entrar na “equipe dos sonhos” daquele Campeonato Brasileiro. Além disso, no ano de 1979, a Desportiva obteve a maior invencibilidade de uma equipe capixaba (12 jogos).

RIO BRANCO E O ANO DE 1986:

Gol capa-preta contra o Vasco, em 1986 (Foto: Gildo Loyola/A Gazeta)

O ano de 1986, sem dúvidas, foi um dos que mais orgulhou sua grande torcida. Diante de equipes como Vasco, Ceará, Internacional, Náutico, o Brancão não se intimidou. Contando com uma boa e entrosada equipe, o Rio Branco venceu duas vezes o Vasco (2-1 e 1-0), ganhou o Ceará (2-0), passou por cima do Inter (1-0) e triunfou sobre o Náutico (1-0), no Estádio dos Aflitos.

Com isso, o alvinegro levou ao seu estádio um total de 157 mil pessoas ao longo do campeonato, sendo esta, a melhor marca já alcançada por um time capixaba. Até os dias de hoje, essa campanha do Rio Branco é a mais vitoriosa de uma equipe do estado, conquistando dez triunfos ao todo. Por fim, o clube ficou por 6 pontos de uma histórica vaga nas oitavas de final.

Neste mesmo campeonato, o alvinegro também contou com o maior público da história de uma partida realizada no Espírito Santo. Devido a boa fase do clube e um grande rival pela frente, 32.328 pessoas pagaram pra ver Rio Branco e Vasco. No mesmo torneio, o alvinegro possui mais três grandes feitos, são eles: Melhor ataque (20 gols), Maior série invicta (9 jogos) e Maior goleada aplicada (4-0 contra o Piauí).

A DUPLA APÓS O AUGE:

Após atingir o topo em sua maior campanha no ano de 1980, a Desportiva fez uma temporada de 1981 abaixo do esperado, terminando em 34º e beirando o rebaixamento. Já que a triste marca não veio no ano anterior, ela acompanhou a equipe grená no ano de 1982, chegando ao primeiro rebaixamento de sua história. Após amargar sua primeira Série B, a Tiva passou por anos difíceis, voltando à elite somente em 85.

Contudo, o ano de sua volta não seria bom, já que, apesar do clube não ter caído, ele voltou ao segundo patamar nacional.

Junto ao seu rival, o Rio Branco obteve anos diferentes. Descendo pela primeira vez no ano de 1983, o Mais Querido fez uma boa campanha pela segunda divisão, subindo rapidamente ao primeiro nível do futebol brasileiro. Com isso, o Brancão se classificou para a primeira divisão em 84, 86 e 87, não disputando em 85 por motivos de mau desempenho no Estadual.

Como curiosidade, foi após a queda e sua subida, que o clube de Vitória realizou sua melhor campanha, chegando em 20º, na temporada 1986.

COPA UNIÃO E INJUSTIÇAS AOS CLUBES FORA DO EIXO:

Devido inúmeras boas campanhas de times de baixa tradição nacional nos anos anteriores, o Clube dos 13 decidiu formar um campeonato, cujo este, seria dividido por tradição e “tamanho”, sem se importar com as campanhas destes, nos anos passados. Sendo assim, clubes como America (semifinalista em 86), Guarani (vice em 86) e até mesmo o Rio Branco, foram transferidos para uma espécie de Série B, mesmo sendo válido pela primeira divisão.

Com isso, clubes como Rio Branco e Desportiva perderam visibilidade nacional, perdendo força e fazendo más campanhas em 87. Sendo assim, no mesmo ano, tanto o grená quanto o alvinegro foram rebaixados, resultando em Desportiva na terceira e Rio Branco na segundona.

ILUSÃO GRENÁ E DECADÊNCIA NO BRANCÃO:

Time grená no albúm do Brasileirão de 93

Após passar um ano na Série C, a Desportiva se classificou, via Estadual, para a segunda divisão de 89. Com isso, a Locomotiva fez algumas campanhas “de gangorra”, indo mal em 89 e não se classificando para o ano seguinte. Entretanto, ao garantir a vaga na segunda divisão de 1991, a Tiva fez bonito e chegou perto do acesso. Sendo assim, com o embalo do ano anterior, a Desportiva subiu à elite depois de ficar entre os doze primeiros colocados.

Mesmo após a tão sonhada volta ter causado esperança ao futebol capixaba, a equipe grená não resistiu e jamais voltou ao patamar mais alto do futebol nacional. Aquela seria sua última temporada na Série A.

Da mesma forma que ocorreu com a equipe de Cariacica, o Rio Branco chegou a sofrer ainda mais. Devido a criação da Copa União e sua má campanha em 87, nunca mais a equipe alvinegra pisaria em uma competição de elite. Sua ida à Série B durou dois anos, chegando a ficar sem disputar nenhum torneio nacional por 5 temporadas, voltando apenas em 1995 para a Série C.

A FANTASIA GRENÁ:

Logo após cair para a segunda divisão em 93, a Desportiva montou uma boa equipe para o ano seguinte. Sendo assim, o clube passou em primeiro de seu grupo na primeira fase. Dessa forma, os grenás foram a segunda fase em um grupo complicado: Santa Cruz, Moto Clube e América-RN. Entretanto, nenhum destes foram páreos para a Tiva, que passou invicta para a semifinal. Portanto, apesar de passar por grandes times, a Desportiva ia ao jogo decisivo contra o Goiás.

Por obter a melhor campanha, o time goiano jogava por um empate no placar agregado e com a vantagem de decidir em casa. Deste modo, a torcida grená lotou o Araripe e incentivou a Tiva para uma linda vitória de 2-0. Sendo assim, o Goiás necessitava de uma vitória por dois gols de diferença. Em um Serra Dourada com mais de 30 mil pessoas, o Esmeraldino pressionou durante toda a partida, chegando no primeiro gol aos 19 minutos da primeira etapa.

Com o resultado que ainda classificava os capixabas, o Goiás foi pra cima, fazendo uma boa jogada que deixou Dill, na cara do gol, encobrindo a bola por cima do goleiro grená, mas parada em cima da linha pelo zagueiro ferroviário. Entretanto, o árbitro Edmundo Lima Filho, marcou um pênalti totalmente duvidoso aos donos da casa, sendo cobrado com perfeição e levando o Goiás para a primeira divisão.

Após a temporada de 1994, a Desportiva também “bateu na trave” mais duas vezes, não obtendo o tão sonhado acesso.

CLUBE EMPRESA DE UM LADO E JEJUM DO OUTRO:

Com a privatização da Vale do Rio Doce em 1996, a Desportiva passou a viver sem nenhuma ajuda, mas acabou se complicando em seus primeiros anos. Portanto, após algumas negociações, a Desportiva Ferroviária assinou um contrato com o grupo Frannel, mas tudo decaiu após o grupo Villa-Forte assumir o clube. Dessa forma, o clube passou a ser clube-empresa, obtendo apenas 49% da participação acionária das negociações e 51% para a empresa dona do clube. A partir daí, a Locomotiva passou a perder sua autonomia no futebol, começando a se chamar por Desportiva Capixaba S.A. Mal gerido, o clube passou a colecionar mais fracassos que sucessos.

Sendo assim, a nova diretoria conseguiu algo inédito, até então: a Desportiva foi rebaixada no Campeonato Capixaba. Perdendo partidas importantes contra Veneciano, o clube grená obteve uma pífia campanha durante todo torneio.

Já do lado alvinegro do estado, as coisas também não estavam das melhores. Amargando um jejum superior a 20 anos, o Rio Branco se acabava em dívidas. Devido a más gestões que duraram cerca de 15 anos, o Rio Branco finalmente sucumbiu. Dessa forma, com péssimas campanhas, dívidas e relatos de delegação indo aos jogos de transporte público, a diretoria do clube declarou desistência no Capixabão de 2005, assinando assim, seu primeiro rebaixamento sem ao menos entrar em campo. Com isso, o clube disputou, neste mesmo ano, a segunda divisão do estado, recebendo ajuda do Vilavelhense, que se prestou em alugar seus jogadores ao clube alvinegro.

O PIOR ANO DA HISTÓRIA DA DUPLA:

Com o Brancão disputando a segunda divisão por dívidas e a Locomotiva recém promovida e lotada de débitos, o ano de 2005 foi o pior da história da dupla. Apesar de duas boas campanhas da dupla em 2004, os clubes se encontravam em fase “terminal”, perto de uma possível quebra. Dessa forma, após desistir de disputar o campeonato, o Rio Branco foi rebaixado pela primeira vez em sua história.

Já a Desportiva, após quase sucumbir à falência, decidiu encerrar as atividades no futebol profissional. A tristeza no futebol capixaba era grande, mas viria aumentar após o Araripe, estádio que recebeu 149 jogos de primeira divisão nacional, ser totalmente remendado e dividido em campos society para gerar renda ao clube.

RECONSTRUÇÃO DO BRANCÃO E ESPASMOS NA TIVA:

Time campeão estadual de 2010 (Foto: Deysiane Gagno/Rio Branco AC)

Após um ano sofrido longe da elite, o Rio Branco conseguiu o acesso. Com isso, o clube colecionou inúmeras campanhas oscilatórias, mas viu em 2010, a sofrida reconquista do Campeonato Capixaba após 24 anos de seca.  Detalhe: O técnico do clube era Dé Aranha, renomado atacante dos anos 70 e 80.

Kieza na Desportiva (Foto: Simon Dias/Pauta Livre

Porém, a reconstrução do clube de Jardim América foi mais difícil. Somente depois de 3 anos, a Tiva subiu em uma final contra o Rio Bananal, contando com a ajuda de Sávio ex-Flamengo e Real Madrid. Com isso, apesar de tudo, não foi suficiente para se restaurar. No ano de 2009, o clube ainda teve um espasmo, com a conquista da Copa Espírito Santo e com a revelação do atacante Kieza.

Porém, no ano seguinte, tudo voltou ao que era antes. Devido à crise, a Desportiva foi rebaixada pela segunda vez, e no ano seguinte não se inscreveu no campeonato, deixando de disputar a segundona.

A VOLTA DA DESPORTIVA FERROVIÁRIA E RIVALIDADE NA FINAL:

Passados difíceis anos em sua história, a Desportiva finalmente se libertaria de um dos algozes de sua vida, o clube-empresa. Anunciado pela 2ª Vara Cível de Cariacica, a Desportiva voltaria a ser Ferroviária. Devido ao não pagamento de ações pelo grupo Villa-Forte, o contrato foi rescindido em 2011. Sendo assim, a Desportiva Capixaba ficou com 10% das ações do clube, enquanto a Ferroviária obteve 90%.

Após o anúncio da volta de seu nome e sua independência, a torcida abraçou o clube e encheu o estádio durante as partidas pela Copa Espírito Santo. Apesar de ter tido que montar uma equipe às pressas, os ferroviários surpreenderam todos, chegando na final e sendo parado apenas pelo Real Noroeste.

Com isso, se iniciou o planejamento para a Segunda Divisão em 2012. Mesmo passando por dificuldades financeiras, os grenás chegaram a segunda final em menos de um ano, sendo campeão e se garantindo na elite do próximo ano. Ainda assim, no ano de seu pré-cinquentenário e no pré-centenário de seu rival, quis o destino que os dois se enfrentassem na finalíssima da Copa Espírito Santo.

Gol da Desportiva Ferroviária no primeiro jogo da final (Foto: Simon Dias/Rádio ES)

Embora no ano passado, o título grená não tenha vindo, no ano seguinte viria. Mesmo com melhor campanha e favoritismo, o Rio Branco enfrentou uma Desportiva embalada. Com o apoio de sua torcida, o time grená emplacou, no primeiro jogo, uma vantagem de dois gols de diferença. Já no segundo jogo, o Mais Querido teve que se abrir para o jogo e sofreu nos contra-ataques. Título da Tiva e festa em Jardim América.

MAIS UMA BAIXA:

Com a subida da Desportiva ao primeiro patamar capixaba e com o Rio Branco garantindo regularidade na primeira divisão, foi criada uma ilusão. Sim, uma ilusão. Após sofridos anos, a Desportiva comemorava seu cinquentenário e o Rio Branco, seu centenário. Porém, nem tudo são flores.

Desse modo, a inesperada equipe da Desportiva, mais uma vez atacou. Contudo, o elenco alvinegro também aprontou. Infelizmente, para os capa-pretas. Com bela campanha grená, a Desportiva foi vencendo e surpreendendo, mais uma vez, sua torcida. Já o Rio Branco, apesar de toda expectativa, surpreendeu pra pior.

Diante do fim do Campeonato, o cenário era horrível para o alvinegro. O Brancão acabava de ir à B em seu centenário, e via seu rival vencer um campeonato com um chute de fora da área, de enorme felicidade, de Anderson Sorriso, que com alegria na final, não só fez o gol do título, como também deu uma assistência para o primeiro gol do ídolo Léo Oliveira.

FINALMENTE, O TROCO:

Ao contrário do que se esperava, o Rio Branco não voltou por méritos, e sim herdando a vaga do Colatina, que desistiu de competir a elite. Sendo assim, o clube alvinegro estaria em maus lençóis, certo? Não. O clube centenário foi simplesmente o de melhor campanha na primeira fase, passando com 7 vitórias e 1 derrota. Com isso, quis o destino, pela décima terceira vez, que os dois rivais decidissem a final capixaba.

Sendo assim, o primeiro jogo foi na casa da Tiva, sendo bastante disputado, mas com vantagem capa-preta já no fim da partida. Dessa forma, o Estádio Kleber Andrade estava lotado para a grande final. Precisando de um gol para acabar com a vantagem rival, a Desportiva abriu o placar em uma falha do goleiro Paulo Victor. Contudo, os capa-pretas não se intimidaram e sete minutos após sofrer o gol, empataram, de pênalti, no pé esquerdo de Ratinho, um dos destaques da equipe.

Portanto, com a vantagem, mais uma vez, favorável ao Brancão, o elenco alvinegro soube ter a tranquilidade necessária para manter o título a seu favor. Por fim, no momento em que a Desportiva teve a chance, o goleiro Paulo Victor conseguiu se redimir, fazendo uma defesa importante para o título capa-preta.

Torcida capa-preta na final em 2015 (Foto: Dayvid Gagno)

A ÚLTIMA QUEDA E FINALMENTE A REGULARIDADE NO CLÁSSICO:

Apesar de conquistar o Capixabão 2015, Copa Espírito Santo de 2016 e estar em alta, o Rio Branco protagonizou uma péssima campanha em 2017, ocasionando pela segunda vez, o rebaixamento do Brancão. Curiosidade: No torneio de 2017, o Rio Branco lutou contra a Desportiva, jogo a jogo, contra o rebaixamento. As duas equipes terminaram com mesmo número de pontos, mas quem desceu foi o alvinegro. Contudo, após um ano “de castigo”, o Rio Branco voltou ao seu lugar, a primeira divisão.

De volta mais uma vez, o Rio Branco surpreendeu a todos com o anúncio de Loco Abreu no clube. “El Loco” jogou 12 partidas e fez 6 gols, mas logo após o termino do campeonato, saiu do Espírito Santo. No clássico, o uruguaio não marcou, e fez parte de um empate sem gols.

OS CONFRONTOS:

De 2019 até Abril de 2021, foram jogadas 8 partidas, sendo o retrospecto: 2 vitórias para a Desportiva, 2 vitórias do Rio Branco e 4 empates. Ontem, no dia 14 de abril, a dupla jogou o clássico, que foi vencido pelo Rio Branco por 3-1.

Disputa em títulos:*

  • Campeonato Capixaba: Rio Branco – 37/ Desportiva – 18
  • Copa Espírito Santo: Rio Branco – 1/ Desportiva – 2
  • Segunda Divisão Capixaba: Rio Branco – 2/ Desportiva – 2
  • Total: Rio Branco 40 – Desportiva 22

*: Sendo assim, foram utilizados como parâmetro, apenas competições ainda existentes. Dessa maneira, se fossem contadas outras competições, a vantagem seria do Rio Branco com 90-26 em títulos totais na história. Portanto, vale lembrar que a Desportiva foi criada somente em 1963, ano em que muitas outras competições, que já não existem mais, haviam sido conquistadas muitas vezes pelo Rio Branco.

Confrontos em finais diretas:*

  • Campeonato Capixaba: Rio Branco – 7**/ Desportiva – 6
  • Copa Espírito Santo: Rio Branco – 0/ Desportiva – 2
  • Total: Rio Branco 7 – Desportiva 8

*: Foram utilizados como parâmetro, apenas competições ainda existentes. Se fossem contadas outras competições, a vantagem seria, mais uma vez, da Desportiva com 13-10 em finais diretas.

**: O título de 1971 foi decidido nos tribunais.

Confrontos em finais indiretas (quadrangulares e hexagonais):

  • Campeonato Capixaba: Rio Branco – 3 (1966, 1976, 2015)/ Desportiva – 4 (1980, 1981, 1986, 1994)

Maiores goleadas do clássico aplicadas pelo Rio Branco:

  • 2 de setembro de 1983, Campeonato Capixaba, Estádio Kleber Andrade: Rio Branco 3×0 Desportiva
  • 3 de julho de 1988, Campeonato Capixaba, Estádio Kleber Andrade: Rio Branco 3×0 Desportiva

Maior goleada do clássico aplicada pela Desportiva

  • 7 de dezembro de 2003, Copa Espírito Santo, Estádio Engenheiro Araripe: Rio Branco 0x5 Desportiva

RETROSPECTO*:

Rio Branco: 77 vitórias

Empates: 81 empates

Desportiva: 80 vitórias

*: Este retrospecto foi atualizado de forma pessoal, já que os únicos dados sobre o clássico mostram 76-72 e 74 empates, com vantagem para a Desportiva. Entretanto, este dado não-oficial, é visto em postagens de 29 de Março de 2015 e continua sendo utilizado até hoje. Dessa forma, foi feita uma atualização de todos os jogos após o dia 29 de Março de 2015. Sendo assim, esse dado não é oficial, mas foi devidamente atualizado, com base pessoal, em relação a estatística mais famosa do duelo.

PARTIDAS EM COPA ESPÍRITO SANTO*:

Rio Branco: 4 vitórias

Empate: 4 empates

Desportiva: 7 vitórias

*: Dado oficial.

PARTIDAS EM CAMPEONATOS BRASILEIROS:

  • Série A: Rio Branco – 1 vitória/  Empate – 1 /  Desportiva – 2 vitórias
  • Série B: Rio Branco – 1 vitória / Empate – 1 / Desportiva – 0
  • Total: Rio Branco – 2 / Empates – 2 / Desportiva – 2

PRIMEIRO DUELO:

Rio Branco 3 x 1 Desportiva                                                                                                                                    Campeonato Capixaba, 22/09/1963.

MAIOR PÚBLICO:

  • Rio Branco 0 x 0 Desportiva – Campeonato Capixaba de 1985, final, 08/12/1985, Engenheiro Araripe
  • 27.010 pagantes

CURIOSIDADES:

  1. Apesar de não haver pesquisas desde 2013, o Rio Branco é considerado popularmente como o clube de maior torcida no Estado.
  2. Embora poucas pessoas conheçam, jogadores como Carlos Germano, Geovani, Sávio, entre outros, foram revelados na Desportiva.
  3. Paulinho (ex-Flamengo e atual jogador do Brancão), Loco Abreu, Andrade, Fio Maravilha e Washington, já disputaram o clássico.
  4. O clássico com mais gols marcados é um 4-3 favorável ao Rio Branco, no ano de 1990.
  5. O maior número de vitórias consecutivas (6) e jogos invencíveis (10), são da Desportiva.
  6. No período em que a Desportiva foi S.A., o Rio Branco venceu mais clássicos que o rival.
  7. O apelido do torcedor do Rio Branco é capa-preta, devido ao torcedor Lafayette Cardoso de Resende, que ia em todos os jogos do clube e usava uma capa-preta junto ao seu fiel cavalo. Nos gols do Brancão, Lafayette atirava para o alto em forma de festejo, ganhando fama entre os torcedores do Mais Querido.
  8. A cor da Desportiva é grená, devido a pintura das locomotivas.
  9. Juntos, Desportiva e Rio Branco conquistaram 56% dos títulos do Campeonato Capixaba,
  10. Em 1971, aconteceu a maior confusão da história do torneio: Desportiva e Rio Branco disputavam o título e a Desportiva já havia ganhado duas partidas e empatado outra, sendo a campeã. Contudo, a diretoria do Rio Branco descobriu que dois jogadores do rival foram inscritos irregularmente. Eles jogavam ao mesmo tempo o Campeonato Mineiro pelo Valeriodoce de Itabira. O caso foi parar no STJ da CBF, que anulou a decisão. Foi marcada uma nova partida, mas a Desportiva não concordou e o Rio Branco foi declarado campeão.

ATENCÃO!

Por fim, essa foi a primeira postagem de um projeto falando sobre “Clássicos no Mundo”, se você curtiu e quer saber sobre outros grandes duelos em mais lugares do mundo, deixe sua curtida, compartilhe e comente pedindo o próximo “derby”. Muito obrigado!

Tiago Emanuel

Jornalista em progressão e amante do futebol passional.
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