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Após a primeira temporada de utilização do VAR no Brasil, a sensação é de que foi abaixo do esperado. Ainda assim, a tecnologia é extremamente necessária, e os erros foram todos humanos.
O árbitro assistente de vídeo, mais conhecido como VAR (Video Assistant Referee), foi aprovado e estreado pela FIFA em 2016. De lá para cá, ele foi se popularizando até chegar no Brasil em 2018. Mas ainda, como teste, na Copa do Brasil. Após polêmicas com o custeamento, ele foi implementado de vez no ano passado.
Com tantos exemplos como a Copa do Mundo de 2018 e competições europeias, a expectativa em cima dele era das melhores. Porém, a ineficácia do material humano que trabalha na arbitragem brasileira equilibrou essa experiência.
Mas essa primeira temporada foi justamente um grande teste para todos nós. Do juiz ao espectador, ainda estamos aprendendo as regras e nos adaptando. Algumas coisas mudaram e precisam ser entendidas. O impedimento por exemplo, agora é exato.
As “novas” linhas de impedimento
Um assunto muito levantado sobre a análise do impedimento é a suposta falta de câmeras horizontais em cada lado do campo. Algo que ajudaria em lances milimétricos e de alta velocidade, onde mesmo com a tecnologia, o nosso olho ainda tem dificuldades para enxergar. Porém, para analisar os lances, a tecnologia do VAR recebe mais ajuda de cima do que dos lados. Por mais polêmico que seja, os chefes de arbitragem e as empresas responsáveis pelo VAR garantem: 100% de eficácia.
Um exemplo dessa visão diferente, foi o gol anulado do zagueiro Werley contra o Corinthians, que fez o Vasco, seu clube, abrir uma denúncia na CBF. Entretanto, a Confederação deixou bem claro que não havia o que se questionar, o VAR detectou uma diferença de 20 centímetros entre o último jogador do cruz-maltino e o penúltimo jogador do clube paulista, o que mesmo com diversos replays, nossos olhos não conseguiram nos dar a certeza.
E é a partir dessa análise vertical, que entra em ação as novas linhas de impedimento. Acostumado com as linhas amarelas e vermelhas das transmissões dos jogos, o telespectador conheceu em 2019, as linhas azuis e vermelhas. O objetivo é o mesmo das antigas linhas, porém, ela é traçada instantaneamente pelo VAR, e não mais pelas transmissões dos canais de TV. Além dessas linhas normais, uma nova linha vertical pontilhada também é traçada para detectar possíveis inclinações, algo que era, e ainda é muito difícil de se notar pelo ângulo da televisão. Assim, o resultado da jogada sai preciso.
Diante dos “olhos que tudo vê”, há torcedores que preferem a condição natural de nossa visão para lances milimétricos com a opinião de que o árbitro de vídeo estraga o espetáculo. Mas foi para ser correto que o VAR surgiu, então ele precisa agir de acordo com a regra. Não importa o quanto um jogador está na frente, se ele está adiantado, ele está impedido.
As polemicas do VAR continuarão. Mas até que ponto?
Mesmo após um ano de muitos jogos verificados pelo VAR e um índice de acerto em 98,4%, ainda temos dúvidas que serão sanadas de forma natural ao decorrer da próxima temporada. Mas no ano passado, algumas situações como no caso do Werley, citado acima, viraram discussões por dias, ou até mesmo semanas. O Botafogo, por exemplo, foi o primeiro clube a levar uma reclamação para os tribunais.
O clube pediu a impugnação da partida contra o Palmeiras ainda no 1º turno do brasileirão, alegando que o VAR foi usado de forma indevida pelo juiz Paulo Roberto Alves Junior, que foi consultá-lo após já ter autorizado o reinicio do jogo, o que é passível de anulação da partida, de acordo com a regra 5 da FIFA e protocolo 8.12 do VAR. Porém, durante o processo no STJD e, após análise de áudios e vídeos, a justiça determinou que o erro foi na demora dos árbitros de vídeo, e não do juiz da partida, o que não configura erro de direito e não entra na regra citada acima.
Essa luta por direitos mesmo que “errados”, não significa que os clubes estão contra o uso da tecnologia, eles apenas querem entender de fato como as coisas funcionam, pois no último caso citado, o acesso aos áudios só foram revelados no tribunal. Por isso, seria interessante uma maior transparência da CBF em relação aos lances polêmicos, inclusive, é algo que começou a acontecer de forma pressionada, como após o jogo entre Athletico-PR e Flamengo – também pelo Brasileirão – onde os áudios e vídeos dos árbitros foram revelados ao público pela mídia.
Aqui vai uma ressalva para o parágrafo acima, que pode soar como defesa de clubes como o Vasco, que não quis pagar a utilização do VAR na primeira tentativa de implementação no Brasil. No entanto, vale ressaltar que mais da metade dos clubes no início não quiseram pagar, mas deixaram claro que queriam que a CBF arcasse com a despesa por obrigação como confederação. Dito isso, vamos deixar o acordo de lado e vamos voltar o foco a partir da utilização do árbitro de vídeo.
Tempo, tempo, tempo, tempo…
Uma das maiores críticas que a tecnologia de vídeo sofre, é o tempo médio gasto com a revisão dos lances. Esfria o jogo e causa irritação na torcida. O campeonato brasileiro por exemplo, terminou com uma média de 1min29s, porém, esse número acima da média de outros campeonatos foi prejudicado por paralisações específicas. Muitos lances foram resolvidos rapidamente e até mesmo sem precisar checar o vídeo, sendo solucionados apenas com um sim ou um não no fone do árbitro. Mas em determinados jogos, tivemos paralisações que levaram minutos, o que fez com que a média subisse.
Vale lembrar também, que o Brasil está longe de representar algum exemplo de rapidez. Nossos campeonatos são marcados por demoras na cobrança de faltas e ceras dos goleiros e até mesmo jogadores de linha. A diferença, está na responsabilidade de cada um. A CBF precisa melhorar a dinâmica dos árbitros em relação à checagem se não quiser piorar essas enrolações nos jogos do futebol brasileiro.
Os erros continuam sendo humanos, e não da tecnologia. Campeonatos como a Premier League devem servir como exemplo de utilização do VAR. Após a primeira temporada brasileira com esse auxílio, esperamos que a CBF trabalhe junto aos árbitros para melhorar essas questões pendentes. Se houve demora durante os jogos, que eles demorem com os treinamentos durante a preparação para que possam chegar mais prontos para a próxima temporada.
Após o primeiro ano completo, a maior parte da opinião pública continuou a favor, além da “Tour do VAR”, uma pesquisa realizada com 584 pessoas entre jogadores, membros de comissões técnicas e dirigentes de 17 clubes, onde a taxa de aprovação foi de 94,1%.