O Botafogo mata. Crédito: Bruno Poppe/Frame/Folhapress
Futebol, Futebol Nacional

Cuidado: o Botafogo mata!

Daniel Dutra
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O campeonato brasileiro de 2020 encerrou-se matematicamente para o Botafogo. Uma temporada de ilusões assim como em 2014, ano da última queda para a segunda divisão. Todavia, um clube centenário jamais morrerá, mas cuidado: o Botafogo mata!


Quando o árbitro apitou o fim de jogo entre Botafogo e Sport, o terceiro rebaixamento do alvinegro foi decretado. Entretanto, era algo premeditado e esperado há rodadas. Diferente das outras vezes, não houve calor humano para tentar salvar o time, pois estamos no meio de uma pandemia. E pela primeira vez, parte da torcida pouco se importou com o rebaixamento. Até os mais apaixonados sentiram o pior dos sentimentos: a indiferença. Pelo menos até a confirmação matemática. Aí sim doeu, sempre dói. Como todo rebaixamento.

A indiferença é um perigo, mas também um alerta. São 26 anos sem um título de expressão. A forma de conquistar novos torcedores é com ajuda de digital influencers. Contudo, o fator campo não consegue segurar esses jovens. O tempo está passando e o encanto, no entanto, perdendo sentido.

Mas afinal, o que fez do Botafogo tão especial durante as últimas décadas? Sua história certamente é linda. Mas talvez seja pouco. Existe algo misterioso que impacta as pessoas. Jogadores se tornam torcedores e, como explicação, dizem que o sofrimento alvinegro os conquistou.

“O lindo de jogar no Botafogo é que nunca é fácil, é sempre sofrido. Só quem está aqui sabe o que é jogar no Botafogo.” – Loco Abreu.

O que é jogar no Botafogo?

Marco Santiago/ND

“Voltei para casa, para o lugar onde sou muito feliz. Aqui a química é diferente, isso foi fundamental para meu retorno. Sem palavras para o carinho que o torcedor tem comigo.” – Erik, em sua segunda passagem pelo Botafogo.

Mas que espécie de masoquismo é o Botafogo? Dos torcedores aos jogadores, existe uma alegria no sofrer. Ou seria apenas fidelidade? É difícil achar respostas para um clube que vende um ídolo e deixa-o maluco, morrendo em um sanatório. Não existe definição mais perfeita de torcedor botafoguense do que Heleno de Freitas. Entre todos os vícios do primeiro bad-boy do futebol, ele perdeu a luta justamente para o Botafogo, seu eterno amor.

“Eu não sou jogador de futebol, eu sou jogador do Botafogo.” – Heleno de Freitas.

O Botafogo vicia. E seu efeito dura uma vida. Seu Delneri marcou diversas vezes na pele o sentimento mais impreciso para uma pessoa: o amor pelo Botafogo. É justo ou injusto viver sem ver um título de sua equipe? Seu Delneri viu, mas e as próximas gerações? Não há perspectiva.

Ainda assim cativa. Existe um ditado que diz:

“Ninguém escolhe torcer para o Botafogo, a pessoa é escolhida.”

O que é torcer para o Botafogo?

Seu Delneri tatuou mais de 90 vezes sua paixão pelo Botafogo. Crédito: Urbano Erbiste/Agência O Globo
Seu Delneri tatuou mais de 90 vezes sua paixão pelo Botafogo. Crédito: Urbano Erbiste/Agência O Globo

Eis aqui a maior prova de amor e fidelidade. Torcer para o Botafogo é um exercício constante. É preciso se impor, ter personalidade forte. Torcer para o Botafogo é ter noção de que, desde a escola até o fim da vida, será minoria e terá que se defender sozinho. O lado bom, se é que existe, é que o êxtase é muito maior em cada conquista. Mas até quando? Segundo os próprios dirigentes, tornar-se clube-empresa é a única saída. Entretanto, dependendo deles mesmos, fica difícil.

Hoje, o clube que mais cedeu jogadores para a seleção brasileira está rebaixado para a Série B. E o sofrimento desse fato não machuca apenas seus próprios torcedores. Mas também quem os acompanha. A jornalista Ana Clara Dantas desabafou em uma matéria: “Vocês não sabem o que é torcer para o Botafogo”.

“Ultimamente preciso ocupar duas horas com banalidades, enquanto o cônjuge esperneia na sala com a combinação de azar e mediocridade do Botafogo… E isso me afeta, não por ser torcedora. Com todo respeito, caros botafoguenses, não saberia lidar.” – Ana Clara Dantas.

O Botafogo mata!

Em uma conversa com meu psiquiatra, ele relembrou da época em que trabalhava em estádios de futebol. Aproveitava para assistir aos jogos. Contudo, o Botafogo lhe irritava. Isso porque, a cada jogo, pelo menos um torcedor passava mal com o time. Com isso, era preciso largar a partida e voltar ao trabalho.

O Botafogo destrata e maltrata seus próprios ídolos, como Garrincha. Que num passado distante, foi descoberto por outro ídolo: Nilton Santos. Esse, vestiu apenas duas camisas: a do Botafogo, e a da seleção brasileira. Nessa época, ainda era válido permanecer no clube. Mas e o que falar então de Jefferson? Recusando propostas da Europa, para jogar a Série B pelo alvinegro carioca. O quanto o Botafogo atrapalha seus sonhos e sua carreira? Certamente você já deixou compromissos de lado para assistir mais uma derrota da equipe.

Portanto, eu não sei dizer que tipo de masoquismo é esse. Mas eu sei que o Botafogo é como um vício e, como qualquer vício, o Botafogo mata!

Daniel Dutra

Jornalista em formação e apaixonado por esportes. Juntei essas duas paixões para produzir conteúdo e valorizar a comunicação criando um portal para levar informação e gerar oportunidades.
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