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Desde as Olimpíadas de 1896, o esporte possui política em sua essência. Durante a história, clubes de futebol foram escolhendo seus lados e lutaram por diferentes causas. Hoje em dia, isso se faz muito presente e, infelizmente, tem gerado situações tristes. O lado político-cultural do futebol revela preconceitos até surpreendentes para os tempos atuais.
A cada temporada cresce o número de problemas gerados por má adaptação de jovens atletas em clubes de outros países que não os seus. Em geral, cobra-se muito do jogador, principalmente resultado a curto prazo, o que é extremamente perigoso até para a saúde deles. Após sentir dores no peito em um jogo do Milan no qual nem jogou, o brasileiro Lucas Paquetá foi diagnosticado com ansiedade e estresse beirando a depressão.
No futebol, o contexto em que um jogador está inserido pode potencializar ou destruir seu desempenho. Isso acontece de diferentes formas. Pode ser por um estilo de jogo do treinador, o momento da equipe ou a estrutura do clube. Mas além da pressão futebolística, fatores sociais interferem diretamente na carreira de jogadores.
No Brasil, essa pressão começa desde a infância. Infelizmente, o futebol é visto como uma das únicas formas de um menino mudar de vida e conseguir ajudar sua família. Desde cedo, o esporte deixa de ser uma diversão para se tornar uma obrigação, o que acaba culminando em problemas seríssimos na vida dos jovens brasileiros. O atacante Ênio por exemplo, jovem promessa do Botafogo, perdeu seu pai vítima de um AVC e virou o homem da casa, sustentando a mãe e seis irmãos com seu futebol.
É a partir desses problemas sociais que surge a tentação de mudar de país. Mesmo já acompanhados de empresários, muitos jogadores escolhem sair para um clube de outro continente almejando o sucesso financeiro. Dependendo do caso, a primeira oferta que chegar é a que será aceita. E normalmente as escolhas são ruins visando a carreira, mas não há como julgar alguém que sobreviveu por anos e agora tem a oportunidade de viver.
Uma das maiores portas de entrada na Europa é a Rússia, sempre contratando jogadores brasileiros. Em muitos casos, é uma excelente escolha, pois têm gerado retorno. Mas nem sempre é o que acontece, aliás, a falta de conhecimento acerca de clubes e regiões específicas é um dos maiores problemas enfrentados por atletas, principalmente aqueles que podem sofrer algum tipo de discriminação.
Identificação cultural
Jogadores espanhóis defendendo a seleção da Catalunha, que não é reconhecida pela FIFA. Crédito: Site oficial da Federação CatalãA política continuará interferindo no futebol, pois futebol é política.
Jovens jogadores muitas vezes não se preocupam em saber para onde estão sendo vendidos ou não tem a liberdade de definir seus próprios destinos. A identificação de clubes com territórios e a população são fatores excepcionais e na maioria das vezes ignorados. Normalmente, o mercado – outro item importante – até é levado em consideração, mas vai muito além disso. Clubes de futebol e o próprio futebol por si só são cheios de valores sociais e muitas vezes políticos, algo que transcende o que os empresários visam. Por isso, vemos diversos casos de atletas não dando certo em algum lugar ou sofrendo alguma intimidação.
Para exemplificar, podemos usar o caso do brasileiro Malcon, transferido do Barcelona para o Zenit. O atacante estava sem espaço no clube catalão, que como o slogan diz, é “Mais que um clube” e foi para o time Russo. O Barcelona FC se posiciona em diversas causas, como por exemplo, a independência da Catalunha do território espanhol. Por mais que seja um assunto muito delicado sobre a política do país, ele não interfere na vida dos atletas do clube. Não é preciso se manifestar para jogar, mas mesmo assim, jogadores da base como Piqué e Xavi carregam com eles a bandeira da independência e levam isso para o campo de jogo. Já o rival Espanyol, também da Catalunha, é contrário a independência e apoia a Espanha, porém, sem tantas manifestações por parte dos jogadores como no Barcelona. É uma guerra de escolhas.
O Zenit, atual clube de Malcon, é reconhecido como o lado mais extremo do racismo na Rússia. Infelizmente, Malcon sentiu isso na pele logo na sua estréia pelo clube. O atacante negro sofreu insultos raciais e viu torcedores do próprio time com faixas pedindo para ele ir embora, pois pelas tradições do clube, um negro nunca deveria vestir a camisa deles. Isso em pleno século XXI. Esse caso já é mais cultural, o racismo está entranhado na cidade e, em menor extremismo, no país. Portanto, ser contra a presença de negros no time é algo normal e tratado com naturalidade por eles.
Essa situação mostra dois graus diferentes de como o futebol vai além do campo e bola. Tudo na vida é política, e com o esporte não é diferente, aliás, é assim desde as Olimpíadas na Grécia em 1896. A questão é como isso se balanceia e como os órgãos responsáveis pelo espetáculo tentam democratizar a parte do campo e da bola. Hoje, tenta-se jogar futebol e deixar o lado político e social para o clube e a torcida, mas como vivos, há situações que precisam de interferências externas. Não temos mais um Mussolini mandando jogadores ganhar a Copa do Mundo ou morrerem, mas temos a Coréia do Sul obrigando sua estrela, Son, a ganhar um título para não servir o exército.
Falando em Mussolini, além da Rússia, a Itália vive uma das piores fases recentes em relação aos atos racismo, principalmente por conta de grupos fascistas que voltam a aparecer estendendo seus braços pelo entorno dos estádios e gritando o nome de Benito. Por mais que seja uma tendência mundial, esses dois países ascendem alertas para todos os lados: clubes, confederações, federações, torcedores e cidadãos.
É preciso saber por onde anda, mas também é preciso combater qualquer ato antiético.
Fica claro então que em meio as oportunidades, existem elementos que são ignorados. As vezes por irresponsabilidade do staff do atleta e outras vezes por questão de escolhas, sejam elas financeiras ou profissionais. O que não pode acontecer é alguém sofrer insultos como no caso do Malcon, independente de qualquer escolha. Fora isso, é necessário se aprofundar mais na história das equipes e garantir uma blindagem pra esses jovens que saem do nada e do dia para a noite se tornam estrelas.