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Nesse ano, os casos de racismo estouraram manifestações pelo mundo todo. No Brasil, mesmo com negros morrendo a cada 23 minutos, ninguém se importa além do próprio povo preto, que continua morrendo. Com isso, precisamos recorrer a ídolos do passado, como PC Caju, para ter algum tipo de representatividade contra racistas.
“Hoje na televisão tem poucos negros, inclusive no jornalismo esportivo.” – PC Caju ao Diário Catarinense.
Paulo Cézar Caju foi um dos maiores jogadores brasileiros da história. Dentro de campo, conquistou tudo que disputou. Fora dele, sempre se posicionou. À moda antiga, nunca esteve preocupado com o que poderiam pensar ao levantar sua bandeira. O ex-jogador é firme, e aos 70 anos, continua sendo uma de nossas vozes. Muito por ser uma referência, mas infelizmente, também é pela falta de atletas engajados socialmente.
Com declarações fortes, o ídolo do futebol brasileiro questiona os jogadores atuais e até mesmo o jornalismo. Trabalhando pelo jornal O Globo, ele teve sua coluna cancelada após criticar a mídia que elogiava a atuação do Flamengo contra o Liverpool, pelo Mundial de Clubes de 2019. Após a demissão, PC disparou contra seu ex-chefe, Márvio dos Anjos: “racista desgraçado e flamenguista de bandeira”.
Durante sua carreira, PC diz não ter sofrido casos de racismo entre os jogadores, mas viu o preconceito tomando proporções maiores durante as últimas décadas, mesmo sendo denunciado. Diante de tudo que está acontecendo no momento, é preciso ver em Paulo Cézar, uma referência.
“Aqui no Brasil são um bando de alienados”
O apelido “Caju” e o cabelo black power surgiram depois da Copa de 70, onde o Brasil foi campeão no México e os jogadores ganharam moral. Convidado para um torneio nos Estados Unidos, Paulo Cézar participou do movimento dos Panteras Negras. Hoje, ele enxerga desprezo dos jogadores por questões como o racismo.
“São um bando de alienados. Sabem de tudo o que acontece. Aqui no Brasil não precisa contar com ninguém. Só depois que jogaram banana para o Daniel Alves ele foi ver que é filho de preto. O Neymar disse que não é preto. Você vê esses caras assumirem alguma posição? Nem com relação à corrupção na CBF.” – PC Caju ao jornal O Tempo.
Ninguém teve a coragem de ir para Los Angeles como ele teve em 1970, como o próprio diz. Mas esse estilo, como quem gosta de bater de frente, sempre fez parte da personalidade do ex-jogador. Anos depois, foi a vez de bater de frente com a ditadura militar brasileira.
“Fui cortado da Copa de 1978 porque bati de frente com o Almirante Heleno Nunes, ex-presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF). Mandei ele passear, cuidar de armas, porque de futebol ele não entendia nada. Zico, Rivellino, Luís Pereira… ninguém se levantou para me defender, mas tudo bem. Não cobrei nada de ninguém. Não dependi da minha classe, me defendi sozinho. Não vou me preocupar agora. Se eu jogasse hoje, reuniria os jogadores e falaria para não jogarmos na seleção enquanto os casos de corrupção não fossem resolvidos. Tem uma música do Bezerra da Silva que é genial: “Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”.” – PC Caju ao jornal O Tempo.
O país carece de PC Caju
Quando fala de reconhecimento, PC Caju se sente melhor acolhido na França do que no próprio país. Ele é considerado ídolo no Olympique de Marseille, um dos times mais politizados do mundo. Em 2016 o ex-presidente da França, François Hollande, veio ao Rio de Janeiro entregar para PC, a medalha da Legion d’Honneur. Uma condecoração honorífica francesa instituída por Napoleão Bonaparte.
“O Barbosa foi vice-campeão e nunca ganhou homenagem. O Jefferson foi eliminado da Seleção pelo Dunga. Dois negros. Falam Salah, mas ele está arrebentando desde quando jogava na Roma. Ele é muçulmano e egípcio, tem cara de terrorista. Mas o Cristiano Ronaldo, mesmo perdendo, continua a vender produtos com a marca dele. Eu nunca fui chamado para fazer alguma publicidade no meu país.” – PC ao Diário Catarinense.
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Após a morte de Geroge Floyd nos Estados Unidos, o mundo foi para as ruas, mesmo em tempo de pandemia. Entretanto, não podemos esquecer que a cada 23 minutos, morre um negro no Brasil. Muitos deles, simples crianças, como João Pedro de 14 anos, Ágatha Félix de 8 anos, Kauê Ribeiro de 12 anos, Kauan Rosário de 11 anos, e tantas outras vítimas inocentes. Contudo, o silêncio permanece. O Brasil é pacífico e os atletas permanecem em suas bolhas. Mesmo que um dia tenham lutado para não terminarem como Joãos e Ágathas.
Talvez seja melhor se manifestar com verdade do que forçado. Mas que o Brasil carece de mais PC Caju, carece.